

O Estado - Suas últimas pesquisas são
sobre a cidade de São Luís. Por que um novo tema?

O Estado – Qual o enfoque do livro?
Maria de Lourdes Lacroix - Não
é uma pesquisa detalhada sobre a questão da saúde, sobre o funcionamento dos
hospitais ou o procedimento técnico dos médicos. É um levantamento histórico,
mostrando o que foi criado, as instituições e respectivas expansões, as
doenças, o ensino local da medicina, seus avanços, entre outros registros.
O Estado - Como a senhora planejou o
trabalho?
Maria de Lourdes Lacroix -
Comecei pelos primórdios, pelos séculos XVII e XVIII. A época da ausência de
médicos e cujas soluções buscadas por nativos, colonos e africanos combinavam
práticas empíricas usando vegetais, animais e minerais, associados ao apelo
sobrenatural. A população era assistida por jesuítas, curandeiros, curiosos,
ervateiros e velhas parteiras. Acompanhei o barbeiro cirurgião, antigos físicos
e cirurgiões até as primeiras escolas europeias de medicina, em ininterrupto
progresso. No século XIX, observei a atuação de maranhenses de volta da Europa,
Rio e Bahia, doutores de outras províncias, portugueses, franceses e ingleses,
todos, médicos generalistas, levando suas caixas de botica com medicamentos de
urgência para fazer cirurgias, sem anestesia. Médicos que dedicavam parte de
seu tempo ao trabalho gratuito em hospitais e filantrópico aos desvalidos,
auxiliados pelas irmandades. Aos poucos, as boticas foram substituídas pelas
casas de manipulação ou farmácias.
O Estado – E quais as novidades do século
XX?
Maria de Lourdes Lacroix - É o
século da medicina liberal, do predomínio do médico e das especialidades. Nas
primeiras décadas, os jovens clínicos gerais assumiram novos procedimentos com
a novidade de alguns aparelhos facilitadores do diagnóstico. Achei por bem
ressaltar algumas figuras de muita competência e humanidade, percorrendo a
cidade, com suas maletinhas a assistir os doentes, a domicílio ou consultando
em salas contíguas às farmácias. Só na década de 1930 chegaram especialistas
com seus consultórios, fase em que a demanda compeliu à organização de outros
hospitais e clínicas especializadas.
O Estado - A
senhora reservou um espaço para ensino da medicina no Maranhão?
Maria de Lourdes Lacroix -
Claro. O ensino da medicina em nosso estado foi bastante retardado. Um decreto
de abril de 1813 previu a organização de academias médico-cirúrgicas na Bahia,
no Rio de Janeiro e no Maranhão, porém somente em 1957, a Igreja Católica
fundou a Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão. Em 1966, a Faculdade foi
incorporada à Fundação Universidade do Maranhão, tomando nova nomenclatura
(UFMA), em 1972.
O Estado - E os problemas?
Maria de Lourdes Lacroix - Nem
a expansão do ensino nem a criação de mais hospitais e clínica representaram um
ótimo atendimento à clientela. O déficit de leitos e consultórios não atende à
população crescida desordenadamente, a tecnologia abriu um abismo entre o
médico e o paciente, não há um tratamento humanizado e de boa qualidade pelas
próprias circunstâncias adversas também ao próprio médico. Percebemos a
profunda modificação nas condições em que se desenvolve a prática da medicina
em São Luís.
O Estado - A senhora é a patrona da Feira
do Livro de São Luís este ano. Como se sentiu com a homenagem?
Maria de Lourdes Lacroix –
Muito feliz, honrada pela homenagem que atribuo à mulher, a professora e à
História.
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