
O
trecho acima citado demonstra que nesse último ano do século XIX, já na
República, o entrudo era ainda uma das principais formas de diversão no
Carnaval de São Luís, e significava na verdade, a própria concepção de Carnaval,
a forma em voga de se brincar o Carnaval, ou seja, “entrudo” era sinônimo de
Carnaval, assim como em outras províncias do Brasil.
A
origem do Carnaval no Brasil colonial se dá com o entrudo que consistia em uma
série de variadas brincadeiras e folguedos que saiam pelas principais ruas das
cidades, onde participavam desde escravos, libertos, ex-escravos, pessoas do
povo, onde os foliões andavam mascarados e fantasiados pelas ruas, munidos de
bisnagas e limões de ceras, carregados de líquidos e água de cheiro, jogando
uns nos outros na maior “algazarra” e se realizava quarenta dias que antecedia
a páscoa.
O
dia do célebre e burlesco “você me conhece?”, ressaltado pelo cronista de “O
Abelhudo”, era quando o folião mascarado, com voz de falsete, indagava os
passantes nas ruas sobre sua identidade, porém, geralmente essa pergunta, era
um prelúdio a insultos, troças, jatos de águas e limões de cera na cara, era o
momento da vingança dos desafetos e vizinhos indesejados.
O
comércio local, também aproveitava o período da folia momesca para faturar. Os
jornais estão repleto de anúncios, oferecendo um sortido e variado estoque de
produtos típicos do Carnaval. “Viva o Carnaval!... Mascaras de papelão, typos
de bichos, luvas de diversas qualidades e tamanhos, Mascara de setim...Narizes
de papelão e cêra...Barbas, bigodes e cabeleiras. Meias para homem e mulher branca
e de côres... E tudo mais o que se possa desejar para o carnaval. Tambem
receberam um completo sortimento de bisnagas e o magnifico pó de prata e ouro
para o entrudo”. Assim anunciava no início dos anos de 1880, o seu Bazar
Carnavalesco no Jornal Pacotilha o estabelecimento NEVES, PINHEIRO & C.,
localizado à Rua do Sol.
Além
do entrudo e do Carnaval de rua como já mencionamos, já se fazia presente na
São Luís do final do século XIX a existência também de um outro modelo de
Carnaval, com um perfil mais elitista, mais aos moldes dos carnavais veneziano
e parisiense; dos préstitos - a exemplo dos “Arautos de Momo”-, dos bailes de
máscaras, do corso, do zé-pereira, das batalhas de flores e das sociedades
carnavalescas – como a “Mephistopheles” - responsáveis pela organização desses
eventos e brincadeiras.
Observa-se
a partir daí a apropriação do Carnaval pelas elites, o surgimento do dito
Carnaval “civilizado”, que agora estava “longe” das ruas, “desorganização”
e permissividade do entrudo, mas mesmo
quando ocupava as ruas, largos e praças, o fazia com “organização”, “critérios”
o “horários”, cheios de regras de urbanidade e civilidade, eis aí o novo
sentido do Carnaval em São Luís e também nas principais cidades do Brasil nessa
virada de século. Quanto ao entrudo, passou então, a ser mal visto pelas
classes abastadas, sendo a partir daí, marginalizado e criminalizado pela
polícia e autoridades.
1 Artigo publicado anteriormente na Coluna “ Domínios da História
do Maranhão” do Jornal Extra, São Luís, 16/02/2018.
* Professor de história e historiador.
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