terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Saudades de José Moreira
Por Manoel Santos Neto
Jornalista e membro
efetivo do IHGM
José Moreira, guardião da Fonte das Pedras |
No final da tarde desta
Quarta-feira de Cinzas (18), descendo a Rua Grande, a caminho da Rua Antônio
Rayol, uma vez mais, me ocorreu a viva lembrança de um ilustre e saudoso
personagem da história urbana de São Luís: ‘Seu’ José Moreira (1910-1998).
Confesso que, sempre
que desço a Antônio Rayol, com o olhar voltado para a Fonte das Pedras, ele me
vem à lembrança. E sinto o quanto ele ainda faz falta entre nós!
Para quem não teve a
chance de conhecê-lo, é importante informar que José Moreira, que faleceu em
São Luís, aos 88 anos de idade, no dia 13 de julho de 1998, foi durante muitos
anos membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde ocupou
a Cadeira Nº 52, patroneada por Joaquim Gomes de Sousa.
Filho
de pais portugueses, José Moreira nasceu na capital maranhense no dia 16 de
abril de 1910 e ganhou fama como o zeloso guardião da Fonte das Pedras,
localizada nas proximidades de sua residência. Quando morreu, deixou seis
filhos.
Homem
culto, dedicado estudioso da História do Maranhão, ‘Seu’ Moreira era inspetor
dos Correios e viveu até a morte com a sua companheira inseparável, ‘dona’ Lucimar
Soares, com quem foi casado durante 39 anos. Quando ‘Seu” Moreira faleceu,
‘dona’ Lucimar, funcionária pública federal aposentada, chamou para si a tarefa
de tornar-se a substituta de seu esposo, como guardiã da Fonte das Pedras.
Vem à
minha lembrança que ela, de igual modo, cuidava com todo carinho da fonte, sem
receber em troca nenhuma remuneração. Dona Lucimar costumava dizer que seu
marido fora um grande protetor da Fonte das Pedras, desde 1945, quando passou a
morar no sobrado nº 333 da Rua Antônio Rayol, que fica vizinho à fonte, na
esquina com a Rua Regente Bráulio.
Se não
fosse o empenho de seu fiel escudeiro, José Moreira, que fora um ativo membro
do IHGM, a Fonte das Pedras hoje, certamente, estaria amargando o mais completo
abandono. Da mesma forma que ‘Seu’ Moreira, dona Lucimar incorporou a Fonte das
Pedras à sua vida. Ela sempre lembrava que seu marido, já aposentado, passava
as manhãs inteiras lá e só não ficava à tarde por causa da intensidade do sol.
Agora,
é importante frisar que José Moreira foi um dos primeiros intelectuais dos
tempos recentes a questionar o mito de que a cidade de São Luís teria sido
fundada por franceses. Na última edição da revista do IHGM (de nº 45),
publicada em janeiro passado, o professor Euges Silva de Lima faz o registro de
que, no final dos anos de 1970 e início de 1980, o mito da fundação francesa
começou a ser questionado.
Euges
lembra que José Moreira, com a autoridade de antigo membro do Instituto
Histórico e Geográfico do Maranhão, assinava uma coluna nos jornais O Imparcial
e O Estado do Maranhão, denominada “História da nossa História”, embasado na
historiografia maranhense dos séculos XVIII e XIX, passou a escrever vários
artigos durante este período, chamando atenção para a inconsistência da
fundação da capital maranhense pelos franceses, causando inclusive certa
repercussão na imprensa.
Por
estes fatos, vale frisar que José Moreira foi uma figura importante na história
recente de São Luís, tanto pelo resgate histórico, que ele buscou fazer durante
a maior parte de sua vida, quanto pela zelosa proteção que ele dava à Fonte das
Pedras. Ele vivia sempre preocupado com os crescentes problemas da fonte, e
chamava a atenção das autoridades, alertando-as para a tomada de providências
necessárias à manutenção do monumento. Por tudo isto, Zé Moreira está fazendo
falta!
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