terça-feira, 4 de setembro de 2012

PROJETO FRANÇA EQUINOCIAL: a tentativa francesa de colonização do Maranhão no século XVII


Euges Silva de Lima*



Carta do Maranhão de João Teixeira de Albernaz, 1626.
A presença francesa no norte do Brasil no século XVII deve ser entendida dentro do contexto das disputas franco lusitanas. Num primeiro momento, meramente restrito à concorrência da indústria extrativa do pau Brasil e outros gêneros tropicais, para depois se tornar projeto de colonização com vistas a um estabelecimento permanente. Embora de iniciativa particular, o projeto de colonização francesa em terras do Maranhão contou com a chancela real.
Na medida em que a colonização portuguesa foi se tornando mais efetiva ao longo do litoral brasileiro, os franceses foram sistematicamente avançando em direção ao norte, as incursões francesas à costa do Brasil no decorrer dos séculos XVI e XVII, ocorreram no sentido sul/norte. Observe que as invasões gaulesas iniciaram-se no Rio de Janeiro em 1555 e culminaram no Maranhão em 1615.

Isso se deve principalmente em razão da união ibérica, em 1580. A exigência espanhola era que a ocupação e colonização do Brasil se desse em direção ao norte, ao contrário do que estava acontecendo até então (sentido sul). A intenção espanhola era proteger suas minas localizadas na região do Peru, de possíveis invasões estrangeiras.
O Maranhão e o Amazonas constituíam portas de entradas para essas regiões mineradoras. É nesse sentido que a colonização portuguesa pós união peninsular coincidiu com o banimento dos franceses dessas regiões mais localizadas ao norte. O Maranhão passou a ser alvo dos franceses, na medida em que constituía ainda uma das poucas áreas restante do litoral brasileiro livre da ação portuguesa.
 
François de Razilly
Embora o nome de Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière seja comumente evocado como o principal líder da expedição francesa às terras maranhenses, é necessário, contudo, ressaltar a imprescindível participação de François de Razilly nos preparativos e administração dessa empresa, não só em termos religiosos como sugeriu o capuchinho francês Claude d’Abbeville, mas principalmente no que diz respeito à articulação para reunir recursos para o bom andamento dos negócios. O projeto: França Equinocial era uma empresa cuja liderança era dividida entre Razilly e La Ravardière, sendo que em momento algum, o Senhor de Razilly assumira papel secundário. Se La Ravardière assume posição de liderança principal nos acontecimentos finais de 1614 a 1615 no Maranhão, isso se deu, certamente devido à ausência de Razilly que se encontrava na França.

Se por um lado, não podemos negar a intenção francesa em fundar uma colônia em plagas do Maranhão, por outro lado, os três anos e quatro meses que aqui permaneceram os franceses não foi tempo suficiente para que eles se consolidassem, no sentido de estabelecerem uma colônia propriamente dita ou até mesmo uma cidade. A chamada França Equinocial não conseguiu criar raízes, o projeto francês ainda estava em andamento quando da chegada dos portugueses.

A experiência francesa no norte do Brasil, em todos os seus aspectos, não chegou a se consolidar enquanto modelo de colonização típica do século XVII, as relações entre metrópole e colônia durante 1612 a 1615 não foram tão regulares assim, aponto de se estabelecerem ali os fundamentos necessários que envolviam as relações metrópole e colônia, típicas do sistema colonial. Portanto, mais pertinente seria entendermos essa ocupação dos gauleses no Maranhão, como uma tentativa de colonização que foi frustrada pela vinda dos portugueses e não fundação de algo no Maranhão, seja uma colônia, seja uma cidade.

Na aventura francesa do Maranhão seiscentista, os indígenas eram peças chave nos métodos de cooptação dos brancos. As alianças entre mairs (franceses) e Tupinambás demonstram uma relação com o “outro” feita com base em negociações comerciais, ao mesmo tempo em que também se constituía uma política para se viabilizarem em terras da América.

Certidão do Francês (Lisboa, 1616)
Sem o apoio das tribos Tupinambás do Maranhão, dificilmente os franceses tinham condições de se estabelecerem por estas terras. Os “Papagaios Amarelos”, como eles eram chamados pelos indígenas, tinha tanta consciência disso que procuram estabelecer leis que protegessem os índios, pois sabiam que o sucesso da empresa, dependia, do bom relacionamento entre os europeus, mas principalmente da relação amistosa entre franceses e nativos.  

Os Tupinambás que foram descritos por cronistas franceses do início do século XVII, apesar de terem apresentados características semelhantes dos que habitavam outras regiões do Brasil, estavam razoavelmente preservados em sua cultura primitiva, visto o isolamento do Maranhão da ação de colonizadores portugueses antes da chegada dos franceses. Abbeville e d’Evreux, quando chegaram ao Maranhão em 1612, encontraram esses índios quase nada modificado culturalmente, ao contrário de franceses lançados em terras maranhenses, anterior à expedição de La Ravardière que já se encontravam praticamente “indianizados”.

Os Tupinambás maranhenses procuraram proteger sua comunidade, nesse sentido, a iniciativa em aliar-se aos franceses ocorre da necessidade desses índios de se protegerem da dominação lusitana, preservar sua cultura e suas próprias vidas. Emigrados de Pernambuco, fugindo da escravidão imprimida pela ação colonizadora portuguesa, assim como, em busca de uma possível “terra sem mal”, os Tupinambás buscaram estabelecer alianças com os franceses que disputavam com Portugal a posse do norte do Brasil.

O sonho francês acalentado há muito tempo em fixar um estabelecimento colonial no Brasil, mais uma vez não dá certo. O norte brasileiro não pertenceria aos mairs e a dúvida que durou muito tempo acerca da posse do território brasileiro, como assinalou o historiador Capistrano de Abreu, se definiria a favor dos perós (portugueses). Depois da derrota fragorosa na batalha de Guaxenduba e a partir da expulsão definitiva comanda por Alexandre de Moura, chega ao fim a pretensão francesa em colonizar o Maranhão. A França Equinocial entra, portanto para o rol das tentativas mal sucedidas de ocupação francesa em terras brasileiras.




*EUGES SILVA DE LIMA, É PROFESSOR DE HISTÓRIA DAS REDES PUBLICAS ESTADUAL DO MARANHÃO E MUNICIPAL DE SÃO LUÍS, COM ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA E METODOLOGIA PARA O ENSINO DA HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO (UEMA), SECRETÁRIO DE CULTURA DO SINPROESEMMA E VICE PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dia 5, último seminário do ciclo dos 400 anos



O Ciclo de Estudos/Debates “A CIDADE DO MARANHÃO: uma história de 400 anos”, realizado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, como parte das comemorações dos 400 anos de São Luís, realizará seu último seminário, o de número 6 e será dia 5 de setembro, às 8 horas, no Palácio Cristo Rei, Praça Gonçalves Dias, trazendo como temática final, a seguinte questão: a cidade de São Luís foi fundada por quem? Conclusões possíveis.
A palestra magna de abertura terá como tema: A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS: fatos e mitos. Será proferida pela professora doutora do UNICEUMA e membro do IHGM, Ana Luiza Ferro. O outro palestrante e debatedor,  será o professor doutor da UFMA, Alexandre Correa, que abordará o seguinte tema: FUNDAÇÃO MÍTICA DE CIDADES: o caso São Luís 400 anos.

Profa. Dra. Ana Luiza Ferro

Na parte da tarde, haverá o (Re)Lançamento dos livros dos sócios, às 17 horas. O Ciclo promovido pelo IHGM aborda um longo período da história do Maranhão e teve início ainda no ano passado, em 28 de julho. No final, as palestras e exposições proferidas serão publicadas nos anais dos seminários.

Prof. Dr. Alexandre Correa
Esse evento conta com o apoio do SINPROESEMMA (Sindicato dos Trabalhadores da Educação  Básica do Estado do Maranhão, SINDEDUCAÇÃO (Sindicato dos professores da Rede Municipal de Ensino de São Luís), Secretaria de Cultura do Governo do Maranhão, UFMA, Colégio Dom Bosco e ISEC.


PROGRAMAÇÃO

Manhã:
8h  Abertura
8:15 Conferência Magna:
Ana Luiza Almeida Ferro (IHGM)
Tema: A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS: fatos e mitos
9:15 Intervalo (Café)
9:15 Sessão de Posters
9:30  Exposição e Debate:
 Prof. Alexandre Fernandes Correa (UFMA/CRISOL)
Tema: A FUNDAÇÃO MÍTICA DE CIDADES: o caso São Luís 400 anos.
10:30 Debate com a plenária
Tarde:
15h Projeto Gonçalves Dias
17h Lançamentos de livros e tarde de autógrafos


domingo, 2 de setembro de 2012

IHGM discute fundação de São Luís


Presidente Telma Bonifácio inicia os trabalhos do Ciclo
 Dia 29, das 8 às 18 horas, no auditório do Palácio Cristo Rei, em frente à Praça Gonçalves Dias, foi realizado com pleno êxito o penúltimo seminário da sequência de seis do Ciclo de Estudos/Debates “A CIDADE DO MARANHÃO: uma história de 400 anos”, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. O seminário tinha como temática principal a fundação da cidade de São Luís, abordando seus vários olhares, tanto a partir da visão de uma cidade de origem francesa, como de uma fundação portuguesa.
Na parte da manhã, se apresentaram os palestrantes favoráveis à fundação francesa da cidade. Após abertura do seminário pela Presidente do Instituto, Professora Doutora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, que saudou a todos os presentes, o professor doutor da UFMA, José Cláudio Pavão Santana, proferiu palestra Magna que teve como tema: “AS LEIS FUNDAMENTAIS DO MARANHÃO: densidade jurídica e valor constituinte, a contribuição da França Equinocial ao constitucionalismo americano. Em seguida falou o turismólogo e pesquisador, Antônio Noberto que defendeu a origem francesa de São Luís. Ainda na parte da manhã, Maria Aparecida Santos e Horácio Lima Neto,  graduandos de história, fizeram exposições de suas pesquisas acadêmicas, abordando o tema do mito da Atenas brasileira.
Euges Lima falou sobre a historiografia da fundação
 No horário da tarde, foi a vez de se abordar a fundação de São Luís a partir de uma origem portuguesa, classificando a fundação francesa como uma tradição inventada pela historiografia maranhense do século XX, portanto, mítica.
Segundo o professor de história e vice presidente do IHGM, Euges Lima, “foi o historiador Ribeiro do Amaral no começo do século XX, mais precisamente em 1911, quando ele escreve um artigo intitulado “Fundação do Maranhão” no Jornal do Diário Oficial do Estado, na coluna denominada de Maranhão Histórico que se é gestada a idéia de uma São Luís absolutamente de origem francesa, servindo, portanto, de virada historiográfica acerca da versão da fundação da cidade, no caso, buscando uma origem francesa e desprezando a já consolidada pela historiografia, ou seja, a portuguesa.”
Primeira mesa redonda debate origem francesa
 O professor de história do Colégio Pitágoras, Rafael Aguiar que também foi convidado para debater o assunto, trabalhou o seguinte tema: “A CONSTRUÇÃO DO MITO DA FUNDAÇÃO FRANCESA DA CIDADE DE SÃO LUÍS: uma análise historiográfica. Finalizou a exposição da tarde a professora Jossilene Louzeiro Alves com a experiência de campo: INCLUSÃO LAZER PARA TODOS: conhecendo o centro histórico, que buscar incluir os estudantes da periferia da Rede pública no âmbito do centro histórico de São Luís.
Após a exposição dos debatedores, foi apresentado o documentário “Papagaios Amarelos”, que é inspirado no livro de mesmo nome de Maurice Pianzola e conta a história dos franceses no Maranhão no início do século XVII. O encerramento foi com a apresentação muito divertida do livro “História da Cidadezinha dos Palacetes de Porcelana”, escrito pelo filólogo e presidente da Academia Brasileira de Filologia, Prof. Dr. Antônio Martins de Araújo, em homenagem aos 400 anos de São Luís.

O filólogo Antônio Martins encerrou com palestra
O auditório do Palácio Cristo Rei estava repleto, principalmente de alunos do Liceu Maranhense, das turmas da professora de história, Deuzuite Vaz, que os levou para que pudessem se informar acerca desses vários olhares sobre a história do Maranhão e as origens da nossa cidade. A presidente do IHGM, Telma Bonifácio, fez um balanço positivo desse seminário e do Ciclo de Estudos/Debates como um todo que o Instituto Histórico vem realizando como homenagem aos 400 anos de aniversário da cidade. 
Esse evento conta com o apoio do SINPROESEMMA (Sindicato dos Trabalhadores da Educação  Básica do Estado do Maranhão, SINDEDUCAÇÃO (Sindicato dos professores da Rede Municipal de Ensino de São Luís), Secretaria de Cultura do Governo do Maranhão, UFMA, Colégio Dom Bosco e ISEC.