sábado, 10 de março de 2018

IV Centenário da morte de Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1618/2018)[1]




Por Euges Lima*


Para alguns, quando se fala em Jerônimo de Albuquerque, remete-se logo a uma importante avenida que corta vários bairros de São Luís, aberta durante a década de 1970, quando a cidade começava a expandir-se. Mas que história estaria por trás desse  personagem histórico que nomeia essa via?

Jerônimo de Albuquerque nasceu em Olinda, Pernambuco no dia 22 de abril de 1548, era um mameluco, filho de índia, Maria do Espírito Santo Arco Verde, mais pai português, Jerônimo de Albuquerque, “o Torto”, também conhecido como o “Adão pernambucano”, devido sua grande prole. Jerônimo pai, chegou ao Brasil em 1535, em companhia de seu cunhado, Duarte Coelho, o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco.

Portanto, Jerônimo de Albuquerque era produto da mistura dessas duas culturas, a nativa, indígena e a europeia, portuguesa, era um líder militar desse Brasil que estava surgindo e sendo conquistado e colonizado pelos portugueses. Em fins do século XVI, a mando do Capitão-Mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, liderou uma companhia de infantaria para expulsão dos franceses do Rio Grande, obtendo sucesso e demonstrando grande habilidade nessas guerras de conquistas da Costa Leste-Oeste, sendo considerado o fundador da Cidade de Natal, Capital do Rio Grande do Norte.

Nesses primeiros tempos da colonização do Brasil, Portugal disputa com a França a conquista e posse do litoral brasileiro. Os franceses sejam piratas, corsários ou colonizadores, tentam se instalar nas terras do Brasil, desde o sul até o norte e na medida em que vão sendo expulsos do sul pelos portugueses, vão avançando em direção ao norte, região que os portugueses ainda não tinham conseguido colonizar. Segundo o historiador cearense, Capistrano de Abreu, “durante muito tempo ficou indeciso a quem pertenceria o Brasil, se aos portugueses ou aos franceses”, tal era a incursão desses últimos na costa brasileira.

É nesse contexto de disputas franco-lusitanas pela posse do Brasil e por ser considerado pelo então Governador do Brasil, Gaspar de Sousa, o mais indicado para liderar a conquista e colonização das terras do Maranhão, por ser experimentado nas coisas e guerras do sertão, por ser meio índio e ter um bom relacionamento com as tribos é que Jerônimo de Albuquerque até então “o Mameluco”, irá liderar essa expedição que ficou conhecida como Jornada do Maranhão.

Embora enfrentando muitas adversidades, para conseguir formar uma força razoável para realização de tal missão, como arregimentar soldados, índios, víveres, armamentos, navios, apoio financeiro, etc. Jerônimo de Albuquerque, para quem “um pedaço de cobra e um punhado de farinha seriam o bastante para se manter alimentado” em qualquer jornada, consegue formar um exército, mesmo sendo o mais mal armado, mal alimentado e maltrapilho que já se teve notícia nesse período.

Mas é com a experiência, otimismo e a perseverança inabalável de Jerônimo e seu ajudante, Diogo de Campos Moreno, Sargento-mor do Brasil que essas tropas chegaram em outubro de 1614 no sítio de Guaxenduba e se fortificaram, atualmente, praia de Santa Maria, município de Icatu. No fatídico 19 de novembro, travaram a lendária Batalha de Guaxenduba, onde de forma surpreendente, infligiram humilhante derrota às superiores forças francesas de la Ravardière que por conta de seu excesso de confiança, erros estratégicos e por adotar um modelo de combate aos moldes de Flandres, como se fazia na Europa, acabou sendo surpreendido pelas tropas de Jerônimo de Albuquerque que adotaram um modelo de guerra típico do Brasil, onde misturavam-se elementos portugueses com elementos indígenas, com estratégias e táticas de guerras brasílicas, ou seja, à maneira do Brasil, fator preponderante para improvável vitória portuguesa nesse conflito pela posse do Maranhão.

Expulsos os franceses do Maranhão em 9 de janeiro de 1616 com o reforço da esquadra e tropas de Alexandre de Moura, foi Jerônimo de Albuquerque Maranhão, nomeado Capitão-Mor e seguindo a orientação da Corte de Madri, com base no traçado urbano feito pelo engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita – que integrou as tropas lusitanas – Tratou Jerônimo de Albuquerque de iniciar o processo de construção da urbe de São Luís. Seu governo durou dois anos e segundo afirma o Barão do Rio Branco em sua “Efemérides Brasileiras”, morreu em 11 de fevereiro de 1618, aqui em São Luís, próximo de completar 70 anos.







[1] Artigo publicado anteriormente na Coluna “Domínios da História do Maranhão” do Jornal Extra, São Luís, 04/03/18.
* Professor, historiador e presidente do IHGM.

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