Por Euges Lima*
Assim era chamado esse
monumento, quando foi inaugurado originalmente no antigo Campo de Ourique no
longínquo ano de 1844 para comemorar a coroação de D. Pedro II. Hoje é
conhecido como “Pedra da Memória” e sua localização atual é o fortim de São
Damião, um daqueles semicírculos, também conhecidos como meia- laranjas na
Avenida Beira-Mar, nas proximidades do Palácio dos Leões.
Depois da base da Pirâmide de Beckman (1815), antigo pedestal do pelourinho colonial, esse é o mais antigo monumento de São Luís, na verdade, o primeiro projetado e construído com essa finalidade específica, no sentido de guardar uma memória, uma efeméride histórica, típico de cidades civilizadas e cultas do século XIX. Segundo informações da época, o segundo do gênero no Brasil.
Sua pedra fundamental foi
lançada em setembro de 1841, no bojo de três dias de festividades e
inaugurações de obras públicas para celebrar a sagração do segundo imperador do
Brasil. A inciativa da construção do monumento partiu dos oficiais do exército
que estavam no Maranhão.
Pesquisando principalmente
em jornais de época, pois a bibliografia existente é muito superficial,
descobrimos mais elementos dessa interessante biografia. Após a inauguração
desse monumento, a área posterior ao quartel militar, o então 5.º Batalhão de
Infantaria, passou a ser conhecida como “Largo da Pirâmide”, onde hoje, existem
os prédios, do Liceu maranhense e do Ginásio Costa Rodrigues.
A Planta de 1858, através de
um ícone, traz a exata localização do obelisco no antigo Campo de Ourique que
estava localizado onde atualmente encontra-se o colégio Liceu.
A partir de sua inauguração,
a Pirâmide para além de sua importância em si, enquanto preservação de uma
memória - a homenagem à coroação do Imperador, inscrita literalmente no
mármore, assumiu também, outras importâncias no âmbito social, politico e
cultural no cotidiano da vida da cidade de São Luís.
É preciso perceber que a
instalação da Pirâmide nesse Campo, que antes, era um imenso e vasto Largo, nu
e desértico, a partir daí, cria-se em torno do monumento, uma nova tradição
para a cidade, um novo ponto de referência para reuniões populares,
manifestações, parada para blocos carnavalescos, paradas cívicas e até mesmo
ponto para serenatas de apaixonados, sendo portanto, seus degraus, utilizados
como palco para os mais diversos oradores. Não havia comemoração cívica em São
Luís do século XIX, onde a Pedra da Memória não fosse parada obrigatória ou
mesmo ponto de culminância e encerramento.
Nas décadas de 1930/1940 com
a (re)urbanização do antigo Campo, que passa a se chamar Parque Urbano Santos;
a demolição do quartel militar e a construção de novos prédios, como a
Biblioteca Pública do estado e o Palácio da Educação, a Pedra da Memória perde
seu protagonismo, sendo removida, desmontada e largada nas proximidades dos
destroços do antigo quartel, a mercê da provável extinção. Em 1946, graças a
intervenção dos membros do Diretório Regional de Geografia, que propõe ao poder
público um novo local para o monumento, o Cais da Sagração, na Avenida
Beira-Mar, local onde permanece até os dias atuais. A Pedra é finalmente salva
e a memória dos acontecimentos que pretendia eternizar, foi preservada.
[1]
Artigo publicado anteriormente na Coluna Domínios da História do Maranhão do
Jornal Extra, 31/01/2018, São Luís/MA.
* Historiador e
presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM)