quarta-feira, 15 de maio de 2013

A CLASSE OPERÁRIA EUROPÉIA NO FINAL DO SÉCULO XIX: do sindicato ao partido político


Do site do SINPROESEMMA


Por Euges Silva de Lima[1]


INTRODUÇÃO

O final do século XIX é um período marcado, do ponto de vista econômico, pela chamada Grande Depressão, isto é, a queda dos preços, dos juros e dos lucros, que ocorreu na economia mundial a partir da década de 1870 até meados dos anos de 1890.

Como consequência da Grande Depressão, as massas operárias se mobilizaram em vários países, dando origem aos movimentos trabalhistas modernos.

É a partir de 1870 que renasce na França o movimento operário, servindo de modelo para os trabalhadores de outros países. A primeira União Sindical é fundada em 1872.  Na Alemanha em 1875, nasce o Partido Social Democrata, que resulta da fusão entre lassalianos e marxistas. A fundação do SPD (Partido Social Democrata) alemão ocorre no Congresso de Ghota, que depois sofrerá severas críticas por parte de Marx.

Em 1882 surge o Partido Operário Italiano. Na Espanha, em 1888, é criado o Partido Socialista Espanhol e em 1898 a social democracia russa. Outro acontecimento importante em fins do século XIX para o movimento operário é a Segunda Internacional (1889).

Essa emergência dos partidos operários na Europa, principalmente a partir da década de 1880, com exceção do SPD alemão (1875), encontrará explicação na enorme massa de trabalhadores existente na Europa nesse momento e no seu espantoso crescimento, que influenciados pelas ideologias socialistas passam a se organizar como classe.

HETEROGENEIDADE DO OPERARIADO

Em fins do século XIX, as massas operárias encontravam-se extremamente divididas, não havia uma classe operária suficientemente homogênea. Essa união da classe operária não ocorria nem mesmo dentro de um único país. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, “antes do surgimento dos novos partidos, havia-se falado, habitualmente, em “classes trabalhadoras” no plural e jamais no singular.”

A falta de unidade no interior das massas trabalhadoras era algo, que poderia tornar-se um obstáculo a qualquer tipo de afirmação em nível prático de uma consciência de classe, que fosse comum a todos os operários.

O proletariado das fábricas, ainda minoria, mas em crescimento rápido, não se identificava com a maioria dos trabalhadores manuais que trabalhavam nas pequenas oficinas e na própria produção doméstica. O trabalho nas modernas fábricas, os ofícios e as outras atividades eram frequentemente localizados, não reconhecendo esses operários a sua situação e os seus problemas como sendo os mesmos.

Essas divisões não ocorriam somente entre trabalhadores de áreas diferentes, mas também, internamente, entre trabalhadores de uma mesma área. Além dessas, havia outras de cunho religioso, nacionalista e de idioma que os dividiam, dificultando a tomada de consciência de classe e organização do proletariado. Entretanto, tais diferenças, por si só, não impediam a formação de uma consciência de classe unificada.

A UNIFICAÇÃO DO OPERARIADO

A unificação das massas trabalhadoras vai ocorrer por meio da ideologia, os socialistas e anarquistas vão levar suas análises até as massas e conscientizá-los para se organizarem. E que a partir daí possam mudar a sua condição de classe explorada.
Os marxistas pregavam que todos os trabalhadores deviam se unir e que a principal tarefa da classe trabalhadora era se organizar em um partido proletário e engajar-se na ação política. Já os anarquistas não concordavam com essa primazia da política e defendiam a ação revolucionária sem a existência de partidos políticos.

Na verdade, as ideias socialistas tiveram inserção superior às ideias anarquistas nos movimentos da Europa do final do século XIX. Já o anarquismo teve grande influência nos países da América Latina.

Os socialistas vão se aproximar dessas massas, que formavam um novo segmento social, e vão imprimir aos vários grupos de operários uma identidade única, a de proletários. É essa mensagem de união de todos aqueles que trabalham e que são explorados por seus patrões e da necessidade de se organizarem para poder existir enquanto classe operária que será reconhecida pelas massas trabalhadoras, criando no proletariado, a partir daí, uma maior consciência de classe unificada.

DO SINDICATO AO PARTIDO POLÍTICO

Os sindicatos nascem como forma de organização dos trabalhadores com o objetivo de conseguir melhores condições de trabalho, de lutar por seus direitos, de defender seus interesses e de depender somente de si mesmos.

A princípio, os sindicatos estão voltados, sobretudo para as conquistas econômicas e para a diminuição da sua jornada de trabalho. Como exemplo desse tipo de sindicalismo, podemos citar o caso da Inglaterra, que durante muito tempo permaneceu fiel à exclusiva ação sindical, possuindo um forte sentimento apolítico de classe, isto é, não evoluindo para a ação política e se prendendo essencialmente a satisfação de ordem profissional, pelo menos, até a fundação do Partido Trabalhista no início da década de 1890.

Em outros países da Europa, o sindicalismo ocorreu de forma diferente do que aconteceu na Inglaterra. Além das questões econômicas, esses outros países, se preocuparam também com as questões políticas, principalmente a partir do início da década de 1870, com o renascimento do movimento operário na França, onde as reivindicações dos trabalhadores não vão ocorrer somente em nível econômico, mas, somando-se a estas, as de ordem política.

Marx e Engels foram os maiores defensores da necessidade de um enquadramento da luta do proletariado em vários aspectos, inclusive, sendo objeto de análise ideológica no “Mafinesto Comunista” de 1848.

Então é a partir da luta econômica que começa com os sindicatos e da necessidade de realizar também a luta política, que a organização dos trabalhadores evoluiu para a organização em partidos proletários.

A organização dos trabalhadores, baseada, sobretudo, na luta econômica, não possuindo até então uma maior consciência do seu papel enquanto classe social foi se modificando com o surgimento dos partidos operários, que passaram a representar a consciência da classe trabalhadora como organização proletária engajada na ação política.

A SEGUNDA INTERNACIONAL

Um acontecimento importante para a classe trabalhadora em fins do século XIX foi o Congresso que criou a II Internacional, em 1889, cujos presidentes foram o francês Edouard Vaillant e o alemão Wilhelm Liebknecht.

Na II Internacional estavam representados os partidos socialistas de trinta e dois países, tendo como os mais importantes a Alemanha, França, Inglaterra, Áustria, Hungria, Boêmia, Rússia, Finlândia, Bélgica, Índia, o Japão, a Austrália e os Estados Unidos.

A finalidade desse encontro internacional de partidos socialistas fora promover a união da classe trabalhadora e que a solidariedade entre os operários fosse além das fronteiras dos países.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As últimas décadas do século XIX na Europa vão ter como uma das principais características a luta da classe trabalhadora contra a exploração do capitalismo. Representarão também o momento em que os operários, além da luta econômica, realizarão a ação política.

Os partidos socialistas irão surgir como a mais desenvolvida forma de organização da classe operária e principal instrumento organizatório de representatividade do proletariado.

O operariado, em fins do século XIX, está mais consciente de sua existência enquanto classe social. E para isso, Marx e Engels e outros teóricos do socialismo tiveram fundamental importância.

A classe trabalhadora a partir de sua luta conquistou uma série de benefícios, como: a diminuição da jornada de trabalho para oito horas diárias, o sufrágio universal, entre outros. O proletariado, nesse momento, é uma força muito grande na sociedade e não poderia ser mais ignorado pela classe dominante. Sendo assim, os partidos operários passam por uma fase de grande ascensão, pois a classe trabalhadora torna-se cada vez mais numerosa.






[1] Graduado em história, especialista em Teoria e Metodologia para o Ensino da História, professor de história do ensino médio da Rede Estadual do Maranhão, secretário de cultura do SINPROESEMMA e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM).