Do
site do SINPROESEMMA
Por Euges Silva de Lima[1]
INTRODUÇÃO
O
final do século XIX é um período marcado, do ponto de vista econômico, pela
chamada Grande Depressão, isto é, a queda dos preços, dos juros e dos lucros,
que ocorreu na economia mundial a partir da década de 1870 até meados dos anos
de 1890.
Como
consequência da Grande Depressão, as massas operárias se mobilizaram em vários
países, dando origem aos movimentos trabalhistas modernos.
É a
partir de 1870 que renasce na França o movimento operário, servindo de modelo
para os trabalhadores de outros países. A primeira União Sindical é fundada em
1872. Na Alemanha em 1875, nasce o
Partido Social Democrata, que resulta da fusão entre lassalianos e marxistas. A
fundação do SPD (Partido Social Democrata) alemão ocorre no Congresso de Ghota,
que depois sofrerá severas críticas por parte de Marx.
Em
1882 surge o Partido Operário Italiano. Na Espanha, em 1888, é criado o Partido
Socialista Espanhol e em 1898 a social democracia russa. Outro acontecimento
importante em fins do século XIX para o movimento operário é a Segunda
Internacional (1889).
Essa
emergência dos partidos operários na Europa, principalmente a partir da década
de 1880, com exceção do SPD alemão (1875), encontrará explicação na enorme
massa de trabalhadores existente na Europa nesse momento e no seu espantoso
crescimento, que influenciados pelas ideologias socialistas passam a se
organizar como classe.
HETEROGENEIDADE DO OPERARIADO
Em
fins do século XIX, as massas operárias encontravam-se extremamente divididas,
não havia uma classe operária suficientemente homogênea. Essa união da classe
operária não ocorria nem mesmo dentro de um único país. Segundo o historiador
Eric Hobsbawm, “antes do surgimento dos novos partidos, havia-se falado,
habitualmente, em “classes trabalhadoras” no plural e jamais no singular.”
A
falta de unidade no interior das massas trabalhadoras era algo, que poderia
tornar-se um obstáculo a qualquer tipo de afirmação em nível prático de uma
consciência de classe, que fosse comum a todos os operários.
O
proletariado das fábricas, ainda minoria, mas em crescimento rápido, não se
identificava com a maioria dos trabalhadores manuais que trabalhavam nas
pequenas oficinas e na própria produção doméstica. O trabalho nas modernas
fábricas, os ofícios e as outras atividades eram frequentemente localizados,
não reconhecendo esses operários a sua situação e os seus problemas como sendo
os mesmos.
Essas
divisões não ocorriam somente entre trabalhadores de áreas diferentes, mas
também, internamente, entre trabalhadores de uma mesma área. Além dessas, havia
outras de cunho religioso, nacionalista e de idioma que os dividiam,
dificultando a tomada de consciência de classe e organização do proletariado.
Entretanto, tais diferenças, por si só, não impediam a formação de uma
consciência de classe unificada.
A UNIFICAÇÃO DO OPERARIADO
A
unificação das massas trabalhadoras vai ocorrer por meio da ideologia, os
socialistas e anarquistas vão levar suas análises até as massas e
conscientizá-los para se organizarem. E que a partir daí possam mudar a sua
condição de classe explorada.
Os
marxistas pregavam que todos os trabalhadores deviam se unir e que a principal
tarefa da classe trabalhadora era se organizar em um partido proletário e
engajar-se na ação política. Já os anarquistas não concordavam com essa primazia
da política e defendiam a ação revolucionária sem a existência de partidos
políticos.
Na
verdade, as ideias socialistas tiveram inserção superior às ideias anarquistas
nos movimentos da Europa do final do século XIX. Já o anarquismo teve grande
influência nos países da América Latina.
Os
socialistas vão se aproximar dessas massas, que formavam um novo segmento
social, e vão imprimir aos vários grupos de operários uma identidade única, a
de proletários. É essa mensagem de união de todos aqueles que trabalham e que
são explorados por seus patrões e da necessidade de se organizarem para poder existir
enquanto classe operária que será reconhecida pelas massas trabalhadoras,
criando no proletariado, a partir daí, uma maior consciência de classe
unificada.
DO SINDICATO AO PARTIDO POLÍTICO
Os
sindicatos nascem como forma de organização dos trabalhadores com o objetivo de
conseguir melhores condições de trabalho, de lutar por seus direitos, de
defender seus interesses e de depender somente de si mesmos.
A
princípio, os sindicatos estão voltados, sobretudo para as conquistas
econômicas e para a diminuição da sua jornada de trabalho. Como exemplo desse
tipo de sindicalismo, podemos citar o caso da Inglaterra, que durante muito
tempo permaneceu fiel à exclusiva ação sindical, possuindo um forte sentimento
apolítico de classe, isto é, não evoluindo para a ação política e se prendendo
essencialmente a satisfação de ordem profissional, pelo menos, até a fundação
do Partido Trabalhista no início da década de 1890.
Em
outros países da Europa, o sindicalismo ocorreu de forma diferente do que
aconteceu na Inglaterra. Além das questões econômicas, esses outros países, se
preocuparam também com as questões políticas, principalmente a partir do início
da década de 1870, com o renascimento do movimento operário na França, onde as
reivindicações dos trabalhadores não vão ocorrer somente em nível econômico,
mas, somando-se a estas, as de ordem política.
Marx
e Engels foram os maiores defensores da necessidade de um enquadramento da luta
do proletariado em vários aspectos, inclusive, sendo objeto de análise
ideológica no “Mafinesto Comunista” de 1848.
Então
é a partir da luta econômica que começa com os sindicatos e da necessidade de
realizar também a luta política, que a organização dos trabalhadores evoluiu
para a organização em partidos proletários.
A
organização dos trabalhadores, baseada, sobretudo, na luta econômica, não
possuindo até então uma maior consciência do seu papel enquanto classe social
foi se modificando com o surgimento dos partidos operários, que passaram a
representar a consciência da classe trabalhadora como organização proletária
engajada na ação política.
A SEGUNDA INTERNACIONAL
Um
acontecimento importante para a classe trabalhadora em fins do século XIX foi o
Congresso que criou a II Internacional, em 1889, cujos presidentes foram o
francês Edouard Vaillant e o alemão Wilhelm Liebknecht.
Na
II Internacional estavam representados os partidos socialistas de trinta e dois
países, tendo como os mais importantes a Alemanha, França, Inglaterra, Áustria,
Hungria, Boêmia, Rússia, Finlândia, Bélgica, Índia, o Japão, a Austrália e os
Estados Unidos.
A
finalidade desse encontro internacional de partidos socialistas fora promover a
união da classe trabalhadora e que a solidariedade entre os operários fosse
além das fronteiras dos países.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As
últimas décadas do século XIX na Europa vão ter como uma das principais
características a luta da classe trabalhadora contra a exploração do
capitalismo. Representarão também o momento em que os operários, além da luta
econômica, realizarão a ação política.
Os
partidos socialistas irão surgir como a mais desenvolvida forma de organização
da classe operária e principal instrumento organizatório de representatividade
do proletariado.
O
operariado, em fins do século XIX, está mais consciente de sua existência
enquanto classe social. E para isso, Marx e Engels e outros teóricos do
socialismo tiveram fundamental importância.
A
classe trabalhadora a partir de sua luta conquistou uma série de benefícios,
como: a diminuição da jornada de trabalho para oito horas diárias, o sufrágio
universal, entre outros. O proletariado, nesse momento, é uma força muito
grande na sociedade e não poderia ser mais ignorado pela classe dominante.
Sendo assim, os partidos operários passam por uma fase de grande ascensão, pois
a classe trabalhadora torna-se cada vez mais numerosa.
[1] Graduado em história, especialista
em Teoria e Metodologia para o Ensino da História, professor de história do
ensino médio da Rede Estadual do Maranhão, secretário de cultura do
SINPROESEMMA e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
(IHGM).
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