domingo, 4 de fevereiro de 2018

A Pirâmide do Campo de Ourique[1]



Por Euges Lima*


Assim era chamado esse monumento, quando foi inaugurado originalmente no antigo Campo de Ourique no longínquo ano de 1844 para comemorar a coroação de D. Pedro II. Hoje é conhecido como “Pedra da Memória” e sua localização atual é o fortim de São Damião, um daqueles semicírculos, também conhecidos como meia- laranjas na Avenida Beira-Mar, nas proximidades do Palácio dos Leões.


Depois da base da Pirâmide de Beckman (1815), antigo pedestal do pelourinho colonial, esse é o mais antigo monumento de São Luís, na verdade, o primeiro projetado e construído com essa finalidade específica, no sentido de guardar uma memória, uma efeméride histórica, típico de cidades civilizadas e cultas do século XIX. Segundo informações da época, o segundo do gênero no Brasil. 

Sua pedra fundamental foi lançada em setembro de 1841, no bojo de três dias de festividades e inaugurações de obras públicas para celebrar a sagração do segundo imperador do Brasil. A inciativa da construção do monumento partiu dos oficiais do exército que estavam no Maranhão.

Pesquisando principalmente em jornais de época, pois a bibliografia existente é muito superficial, descobrimos mais elementos dessa interessante biografia. Após a inauguração desse monumento, a área posterior ao quartel militar, o então 5.º Batalhão de Infantaria, passou a ser conhecida como “Largo da Pirâmide”, onde hoje, existem os prédios, do Liceu maranhense e do Ginásio Costa Rodrigues.

A Planta de 1858, através de um ícone, traz a exata localização do obelisco no antigo Campo de Ourique que estava localizado onde atualmente encontra-se o colégio Liceu.

A partir de sua inauguração, a Pirâmide para além de sua importância em si, enquanto preservação de uma memória - a homenagem à coroação do Imperador, inscrita literalmente no mármore, assumiu também, outras importâncias no âmbito social, politico e cultural no cotidiano da vida da cidade de São Luís.

É preciso perceber que a instalação da Pirâmide nesse Campo, que antes, era um imenso e vasto Largo, nu e desértico, a partir daí, cria-se em torno do monumento, uma nova tradição para a cidade, um novo ponto de referência para reuniões populares, manifestações, parada para blocos carnavalescos, paradas cívicas e até mesmo ponto para serenatas de apaixonados, sendo portanto, seus degraus, utilizados como palco para os mais diversos oradores. Não havia comemoração cívica em São Luís do século XIX, onde a Pedra da Memória não fosse parada obrigatória ou mesmo ponto de culminância e encerramento.

É em fins do século XIX que a população passa a chamar a Pirâmide do Campo de Ourique, nome mais oficial, de “Pedra da Memória”, denominação mais popular. Também nesse período, a crônica local, noticia que o monumento é atingido por uma “faísca elétrica”, em meio a uma tempestade, destruindo assim a ponta da pirâmide e atingido pessoas que estavam no local.

Nas décadas de 1930/1940 com a (re)urbanização do antigo Campo, que passa a se chamar Parque Urbano Santos; a demolição do quartel militar e a construção de novos prédios, como a Biblioteca Pública do estado e o Palácio da Educação, a Pedra da Memória perde seu protagonismo, sendo removida, desmontada e largada nas proximidades dos destroços do antigo quartel, a mercê da provável extinção. Em 1946, graças a intervenção dos membros do Diretório Regional de Geografia, que propõe ao poder público um novo local para o monumento, o Cais da Sagração, na Avenida Beira-Mar, local onde permanece até os dias atuais. A Pedra é finalmente salva e a memória dos acontecimentos que pretendia eternizar, foi preservada.










[1] Artigo publicado anteriormente na Coluna Domínios da História do Maranhão do Jornal Extra, 31/01/2018, São Luís/MA.
* Historiador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM)

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