Adaptado do Site da RHBN
Revista de História da Biblioteca Nacional deste mês, traz reportagem sobre o pedestal do Pelourinho de São Luís de 1815 e seu achado recente como base da Pirâmide de Beckman. Veja a reportagem na íntegra.
O enigma da Pirâmide
Pesquisador
de São Luís afirma ter descoberto que monumento da República foi erguido sobre
antigo pelourinho
por Angélica Moreira
Tortura
e bravura descrevem bem o monumento Pirâmide de Beckman, que fica no Parque 15
de Novembro, em São Luís (MA). Ela foi construída em 1910, em homenagem a
Manuel Beckman, líder da revolta de 1684 que ganhou seu nome. Mas um recente
estudo indica que há história embaixo dessa história. A base do monumento
estaria apoiada sobre um pedestal do antigo pelourinho local, de 1815. O autor
da constatação é Euges Lima, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do
Maranhão (IHGM), que pesquisou o assunto por dez meses.
Euges Lima, junto ao pedestal do Pelourinho. Foto: Sônia Reis |
Tudo
começou quando Maria Celeste de Souza, então funcionária do instituto,
encontrou o pequeno livro A Cidade de S. Luiz: vestígios do passado (1926). O
livro é um levantamento de monumentos, pontos históricos e sugestões de
preservação do patrimônio da cidade. Chamou a atenção do historiador a seguinte
passagem: "o segundo ponto histórico é aquelle onde, segundo presume o
historiographo nosso digno consocio Professor Amaral, foi executado o Bequimão.
Collocou-se ali uma pyramide comemorativa, em cuja base está a pedra do antigo
pelourinho da cidade". Ali estava um detalhe até então “perdido” na
memória de São Luís: a base da Pirâmide de Beckman pertenceu ao pelourinho.
O
pedaço de pelourinho revelado seria o instrumento de 1815 que ficava no antigo
Largo do Carmo (atual Praça João Lisboa). Segundo Euges Lima, acreditava-se que
o pelourinho tinha sido completamente destruído durante insurreição popular de
1889. A confirmação de que a base do monumento moderno seria de fato parte do
pelourinho foi encontrada em outro livro, O cativeiro (1941), de Dunshee de
Abranches. “A obra traz um desenho do pelourinho provavelmente feito pelo
próprio autor. Ele viveu em São Luís à época em que o antigo pelourinho era
usado e fez uma rica descrição do monumento”, explica o historiador.
Para
Jomar Moraes, 37º membro da Academia de Letras Maranhense e revisor das edições
de 1992 e de 2012 do livro de Abranches, parece mesmo tratar-se do pedestal do
pelourinho. Ele destaca as semelhanças da base da Pirâmide com as ilustrações
de O Cativeiro e cita trecho publicado no jornal Pacotilha do relatório da
prefeitura divulgado em março de 1930: "foi projetado o monumento a
Bequimão, o Proto-Mártir da Independência desta Gloriosa Cidade. Inclui o projeto
o aproveitamento do pedestal de cantaria do pelourinho de São Luís”.
Pirâmide de Beckman sobre o pedestal do Pelourinho. Foto: Euges Lima |
de São Luís – em substituição à Pedra da Memória, de 1844 – é a questão simbólica. Para Rafael Chambouleyron, professor da Universidade Federal do Pará, “tudo gira em torno dos sentidos que indivíduos e grupos dão aos símbolos. O pelourinho representa o poder municipal e a opressão ligada ao castigo dos escravos. O mesmo vale para a Pirâmide: muitos viram a revolta como opressão, outros como total desgoverno”. Para ele seria interessante indicar os dois símbolos, evidenciando os sentidos distintos atribuídos a eles. Pollyana Mendonça, professora de História da Universidade Federal do Maranhão, lembra, porém, que a descoberta é recente e precisa de mais investigação.
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