domingo, 22 de fevereiro de 2015

Saudades de José Moreira



Por Manoel Santos Neto
Jornalista e membro efetivo do IHGM
 
 
José Moreira, guardião da Fonte das Pedras
No final da tarde desta Quarta-feira de Cinzas (18), descendo a Rua Grande, a caminho da Rua Antônio Rayol, uma vez mais, me ocorreu a viva lembrança de um ilustre e saudoso personagem da história urbana de São Luís: ‘Seu’ José Moreira (1910-1998).
Confesso que, sempre que desço a Antônio Rayol, com o olhar voltado para a Fonte das Pedras, ele me vem à lembrança. E sinto o quanto ele ainda faz falta entre nós!
Para quem não teve a chance de conhecê-lo, é importante informar que José Moreira, que faleceu em São Luís, aos 88 anos de idade, no dia 13 de julho de 1998, foi durante muitos anos membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde ocupou a Cadeira Nº 52, patroneada por Joaquim Gomes de Sousa.
Filho de pais portugueses, José Moreira nasceu na capital maranhense no dia 16 de abril de 1910 e ganhou fama como o zeloso guardião da Fonte das Pedras, localizada nas proximidades de sua residência. Quando morreu, deixou seis filhos.
Homem culto, dedicado estudioso da História do Maranhão, ‘Seu’ Moreira era inspetor dos Correios e viveu até a morte com a sua companheira inseparável, ‘dona’ Lucimar Soares, com quem foi casado durante 39 anos. Quando ‘Seu” Moreira faleceu, ‘dona’ Lucimar, funcionária pública federal aposentada, chamou para si a tarefa de tornar-se a substituta de seu esposo, como guardiã da Fonte das Pedras.
Vem à minha lembrança que ela, de igual modo, cuidava com todo carinho da fonte, sem receber em troca nenhuma remuneração. Dona Lucimar costumava dizer que seu marido fora um grande protetor da Fonte das Pedras, desde 1945, quando passou a morar no sobrado nº 333 da Rua Antônio Rayol, que fica vizinho à fonte, na esquina com a Rua Regente Bráulio.
Se não fosse o empenho de seu fiel escudeiro, José Moreira, que fora um ativo membro do IHGM, a Fonte das Pedras hoje, certamente, estaria amargando o mais completo abandono. Da mesma forma que ‘Seu’ Moreira, dona Lucimar incorporou a Fonte das Pedras à sua vida. Ela sempre lembrava que seu marido, já aposentado, passava as manhãs inteiras lá e só não ficava à tarde por causa da intensidade do sol.
Agora, é importante frisar que José Moreira foi um dos primeiros intelectuais dos tempos recentes a questionar o mito de que a cidade de São Luís teria sido fundada por franceses. Na última edição da revista do IHGM (de nº 45), publicada em janeiro passado, o professor Euges Silva de Lima faz o registro de que, no final dos anos de 1970 e início de 1980, o mito da fundação francesa começou a ser questionado.
Euges lembra que José Moreira, com a autoridade de antigo membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, assinava uma coluna nos jornais O Imparcial e O Estado do Maranhão, denominada “História da nossa História”, embasado na historiografia maranhense dos séculos XVIII e XIX, passou a escrever vários artigos durante este período, chamando atenção para a inconsistência da fundação da capital maranhense pelos franceses, causando inclusive certa repercussão na imprensa.
Por estes fatos, vale frisar que José Moreira foi uma figura importante na história recente de São Luís, tanto pelo resgate histórico, que ele buscou fazer durante a maior parte de sua vida, quanto pela zelosa proteção que ele dava à Fonte das Pedras. Ele vivia sempre preocupado com os crescentes problemas da fonte, e chamava a atenção das autoridades, alertando-as para a tomada de providências necessárias à manutenção do monumento. Por tudo isto, Zé Moreira está fazendo falta!

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