segunda-feira, 24 de setembro de 2012

José Jorge toma posse na Casa de Antonio Lopes


José Jorge na tribuna do IHGM

Discurso de posse  de José Jorge Leite Soares na cadeira 34, patroneado por Wilson da Silva Soares  (20 de setembro de 2012)


Saudação à Mesa,

Costuma-se dizer que quando desejamos algo o universo conspira a nosso favor. Desta feita foi o meu dileto amigo e destacado membro do Conselho Diretor da Aliança Francesa de São Luís, Antonio Noberto, que conspirou para que eu pudesse tomar assento neste destacado espaço que abriga ilustres confreiras e confrades, cada qual chegado aqui por merecidas e reconhecidas participações na vida acadêmica, científica e cultural da comunidade maranhense.
Dirijo-me ao confrade Antonio Noberto, fazendo uso das palavras de Wilson da Silva Soares, quando, depois de longos anos ausente de sua terra natal, retorna a Pinheiro no final do ano de 1933, para dizer: “O vosso amável gesto, vislumbrou em mim merecimentos que não possuo senão quando sou observado pela lente pronunciadamente convexa da simpatia, por mercê da qual as qualidades triviais se desnaturam para parecer aos olhos do observador desprevenido atributos tão marcantes”.
Imaginem, prezadas confreiras e confrades, um menino nascido numa pequena cidade do interior do Maranhão, que aos 14 anos de idade, em busca do conhecimento, tomou o fluxo das águas do Pericumã e rumou pela foz da baia de Cumã em direção a São Luís para empreender uma longa viagem a Brasília e, mais tarde, a São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, sem sequer ter feito um estágio na capital do Estado. Mais de duas décadas longe de sua terra, já com família constituída (Beth sua amada mulher e os filhos Julia e Bruno), decidiu por fazer o caminho de volta. As raízes que sempre o mantiveram ligado ao solo de sua terra o trouxeram de volta ao seu torrão natal.
E hoje, esse menino sonhador, realiza mais um sonho acalentado nos bancos do colégio Odorico Mendes lá em Pinheiro. Ocupar uma cadeira neste Instituto que já abrigou e continua a acolher personalidades das mais importantes no seio de nossa sociedade. Este momento tem para mim um significado ímpar e registro de início o meu compromisso de retribuir tamanha honraria com aquilo que disponho: a capacidade de trabalho, a dedicação e a vontade de acertar.
Estar hoje recebendo das mãos de sua presidente Dra. Telma Bonifácio dos Santos, avalizado pelos demais confrades e, mais ainda, de estar ao lado de conterrâneos do quilate do Dr. Aymoré Alvin, do Dr. José Marcio Leite e da Dra. Joana Bitencourt, me faz crer que valeu a pena ter recebido umas palmatórias de Dona Mundica Costa (para aprender a tabuada), ter ficado de castigo ajoelhado nos caroços de milho de frente para a parede e dos ensinamentos ministrados nas aulas de redação por Dona Cici Amorim e do apoio e carinho de Dona Diana, minha querida mãe de quem tantos incentivos tive ao longo de toda a minha vida. Sem maiores traumas, olho para traz e vejo como tudo isso foi importante para a minha formação.
Quis o destino que hoje esteja eu assumindo a cadeira de no. 34, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, cujo patrono era um conterrâneo de Pinheiro. E mais ainda, um parente. Wilson da Silva Soares.
A família Soares, através de Odilon Soares, médico renomado, poliglota capaz de dominar fluentemente o alemão, o italiano, o francês, o inglês e o espanhol, alem de largos conhecimentos do Latim, foi o primeiro deputado federal nascido em Pinheiro, marcando sua passagem na Assembleia Constituinte de 1946 como um parlamentar de raro brilho conseguindo a aprovação de dezenas de projetos de sua autoria. Ocupou a cadeira de no. 25 deste Instituto.
Oswaldo da Silva Soares, tabelião, portador de invejável cultura, pesquisador dos mais notáveis, colecionador de obras de arte e com atuação destacada nesta Casa, chegou a ocupar a cadeira de no. 13.
Luiz Alfredo Guterres Soares, poeta, escritor e jornalista, ocupante da cadeira no. 39, tem prestado relevantes serviços a este Instituto e, humildemente, me junto a eles com o compromisso de somar esforços para o engrandecimento desta Casa.
Assim como eu, Wilson da Silva Soares nasceu em março. Era final do século XIX, 1898.
Segundo André Ribard, na Prodigiosa História da Humanidade, nesse ano acontecia mundo afora uma verdadeira revolução no conhecimento científico: Thomas Edison aperfeiçoava a energia elétrica, madame Curie e Monsieur Becquerel isolavam o radium e estudavam a radioatividade natural, Nos Estados Unidos o telefone ligava pela primeira vez duas cidades distantes e na França surgia o cinema com os Lumière.
Por outro lado, segundo Jerônimo de Viveiros, em Quadros da Vida Pinheirense, Pinheiro sofria os efeitos da abolição da escravatura, abalando a sua economia baseada na produção de cerca de quarenta fazendas sustentadas pela força dos braços de mais de mil escravos.
E foi lá que em 20 de março de 1898 uma parteira lhe aplicou as primeiras palmadas e a sua mãe ouviu o choro daquele que viria a se tornar um dos mais importantes filhos de Pinheiro.
Seus estudos foram iniciados em sua terra natal e mais tarde em São Bento, transferindo-se para São Luís em decorrência do falecimento de seu progenitor. Amante das letras, leitor contumaz, iniciou seus estudos superiores na Faculdade de Direito, porém sua vocação pelo jornalismo o levou a abandonar a carreira jurídica.
Fez-se jornalista dos mais notáveis e brilhantes da sua época. Dirigiu o Diário de São Luís, período no qual desenvolveu uma rica produção de artigos publicados em diferentes revistas científicas e culturais.
Habituado ao convívio amável dos bons livros foi um colecionador cuidadoso de obras literárias e chegou a organizar nos baixos da sua residência, em três grandes salões na Rua dos Afogados a maior e mais importante Biblioteca do Estado, não somente pela quantidade de obras, que atingiu a casa dos quarenta mil volumes, mas, principalmente, pelo alto valor literário da grande maioria delas, algumas de renomada raridade.
Após ter criado a Sociedade Maranhense de Estudos, foi um dos idealizadores da Academia Maranhense de Letras e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, quando em 1925 foi escolhido Patrono da cadeira de no. 34 que hoje, com muito orgulho, repito, assumo neste momento.
Rotariano de destaque e sempre a frente de iniciativas inovadoras, chegou a ocupar a direção da imprensa Oficial do estado do Maranhão, do Arquivo Público do estado e do departamento Estadual de Estatística.
Wilson da Silva Soares, pelo seu elevado espírito público e dedicação teve o reconhecimento dos principais mandatários da época, tais como o presidente do estado José Pires Sexto e do interventor Paulo Ramos. Sua notoriedade já se fazia presente quando influenciado por amigos e correligionários tentou uma vaga na Assembleia Legislativa. Mesmo não obtendo êxito, recebeu uma votação significativa, notadamente de seus conterrâneos pinheirenses.
Registros do Jornal Cidade de Pinheiro mostram que nesse ano, mais precisamente no final de 1933, chegava à redação do Jornal um telegrama informando da visita que faria à sua terra natal.
Partindo de São Luís a bordo do barco Capricho, após ter vencido os banzeiros do boqueirão, ter contornado a Pedra Grande de Itacolomy e ter adentrado pela baia de Cumã, rumo a sua terra natal, Wilson chega a Pinheiro.
Filho dos mais ilustres da cidade àquela época, Wilson fez-se acompanhar pelo desembargador Elizabetho Barbosa de Carvalho e foi recebido pelos seus conterrâneos com salvas de foguetes tão logo a comitiva foi avistada na Ilha de Ventura, à entrada da cidade.
O diretor do Jornal, Josias Abreu abriu as portas e salões de sua elegante residência para recebê-lo na presença das principais autoridades, dos membros da Loja Maçônica “Renascimento” e de lideranças de Pinheiro onde proferiu em nome da cidade a saudação ao mais notável de seus conterrâneos:
“Abre-vos Pinheiro os braços, neste momento emocionada e trêmula para o amplexo de boas vindas que simboliza na eloquência de um gesto, todo o sentir de seu povo” e, finalizando, conclui: “assim, hospedes queridos, não vos dou as chaves da cidade. Ela, para vós, não possui portas e não tem muralhas”.
Mesmo não obtendo êxito na aventura política e dedicando-se com afinco aos estudos estatísticos por ocasião em que dirigia o Departamento de Estatística do estado, foi convidado pelo embaixador Macedo Soares, à época presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para instalar no Estado de Sergipe o Departamento de Estatística local.
Wilson da Silva Soares foi certamente um dos pinheirenses que honraram a terra onde nasceu, por seu talento, por sua cultura e por sua capacidade admirável de trabalho que ele sempre empregou por onde passou com o brilho de sua inteligência e com o elevado espírito público que sempre carregou consigo.
Veio a falecer no Rio de Janeiro em 9 de dezembro de 1949 sendo sucedido por Elizabeto Barbosa de Carvalho. Formado em direito pela Universidade de Pernambuco, natural do estado do Piauí, casou-se com uma pinheirense quando de sua passagem pela cidade de Pinheiro como Juiz de Direito. A essa época, fundou o jornal Cidade de Pinheiro, o hebdomadário mais antigo ainda em circulação no estado do Maranhão, contando com a colaboração de Wilson Soares e Clodoaldo Cardoso, entre outros.
Desembargador do Tribunal de Justiça do estado do Maranhão, ocupou o cargo de Corregedor Geral do Estado, chegando a ser o Presidente do Tribunal de Justiça. Como advogado desempenhou-se de forma brilhante como presidente da Ordem dos Advogados do Maranhão. Em 1942 foi nomeado Interventor Federal no Estado do Maranhão, chegou a ocupar pela vontade do povo uma cadeira na Câmara Federal e encerrou sua brilhante história de vida em defesa dos interesses do povo do Maranhão atendendo, mais uma vez, aos apelos populares, quando foi eleito Prefeito de Pinheiro para o período de 1960 a 1964.
Veio a falecer em 18 de março de 1966.
Esta cadeira ainda foi ocupada pelo seu irmão Fernando Barbosa de Carvalho, piauiense de Amarante que adotou o Maranhão para desempenhar seu importante papel como homem público.
Como jurista de formação, teve destacado papel na elaboração da Constituição do estado do Maranhão, ocupou o cargo de Secretário de Estado da Educação e Cultura no governo Eugênio Barros e, posteriormente, no governo de Eurico Ribeiro, conduziu a pasta da Secretaria de Interior, Justiça e Segurança.
Os arquivos do jornal Cidade de Pinheiro registram uma leva de artigos publicados por “Tirso Júnior”: pseudônimo usado por ele durante muitos anos para exercitar, de forma refinada, a sua arte da escrita. Na Academia Maranhense de Letras, a cadeira de No. 17, patroneada por Sotero dos Reis foi, por ele, coupada por muitos anos. Faleceu em 1976.
Como vêem, minhas senhoras e meus senhores, confreiras e confrades, pesa sobre os meus ombros uma carga hercúlea ao suceder estes homens que fizeram de suas histórias a História do Maranhão. Minha responsabilidade torna-se imensa na medida em que a mim só resta envidar todos os esforços para o engrandecimento desta instituição. Este é, a partir de hoje, o meu compromisso com esta Augusta Casa.
Muito obrigado.

José Jorge Leite Soares

O empossado com os confrades

José Jorge, assina o livro de atas


Pres. Telma ladeada pelos dois empossados da noite
Pres. Telma Bonifácio e o Vice-pres. Prof. Euges Lima

Os empossados e suas respectivas esposas

Amigos e confrades prestigiam o evento

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