O
ex-presidente e líder histórico da luta contra a segregação racial da África do
Sul, Nelson Mandela, morreu nesta quinta-feira, 5 de dezembro de 2013. A
notícia foi passada à nação e ao mundo pelo presidente sul-africano, Jacob
Zuma.
"Meus
amigos sul-africanos, nosso amado Nelson Rolihlahla Mandela, o presidente
fundador da nossa nação democrática, foi embora. Ele morreu em paz, na
companhia da sua família, por volta das 20h50 (horário sul-africano) neste dia
5 de dezembro", comunicou Zuma em rede nacional, enquanto uma multidão de
sul-africanos, permeada por policiais e jornalistas, se mobilizava na frente de
sua casa, à espera da notícia. "Ele está descansando. Ele está em paz.
Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu um pai", resumiu Zuma.
Mandela
tinha 95 anos e há muito lutava contra doenças decorrentes do período em que
permaneceu preso por conta de sua luta contra o Apartheid, regime
segregacionista que imperou durante décadas no seu país. Ele passou 27 anos
preso para depois se eleger presidente da África do Sul, de 1994 a 1999. Famoso
por ter combatido o regime segregacionista do Apartheid, Madiba, como é
carinhosamente chamado pelos sul-africanos, é uma das personalidades políticas
mais bem vistas da história, clamado não só na África do Sul, mas em todo o
mundo.
Durante
todo o período de internação, pessoas deixavam mensagens de apoio, flores e
presentes na entrada do hospital para o considerado pai da democracia
sul-africana. O atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, recorrentemente
deu declarações ao público, rendendo homenagem a Mandela e demonstrando apoio a
sua família. Primeiro presidente negro da história sul-africana, eleito em
1994, meses após o fim do Apartheid, Nelson Mandela ainda mantinha uma imagem
política muito forte no país, sendo respeitado por diversos governantes.
História
Mandela
nasceu em 1918 e ainda criança passou pela dificuldade de perder o pai, Henry
Mandela, analfabeto e chefe da tribo Tembu, da etnia xhosa, umas das três mais
importantes da África do Sul. Embora fosse o herdeiro da liderança tribal,
Mandela decidiu renunciar e estudar no Clarkebury Training College, onde ficou
conhecido como aluno inquieto, fazendo jus ao seu verdadeiro nome, Rolihlahla,
que na língua xhosa significa “criador de problemas”.
A
inquietação de Mandela continuou. Após dois anos como estudante da universidade
de Fort Hare, Mandela foi expulso por organizar um boicote às eleições
estudantis. Já em 1941, ele fugiu para Johannesburgo para não se casar
forçadamente e, na cidade, ingressou no curso de Direito da Universidade da
África do Sul.
Apartheid
Com
a chegada do Partido Nacional ao poder, em 1948, entrou em vigor na África do
Sul a política de segregação racial do Apartheid. Mandela, já advogado e com 30
anos, assumiu a liderança da maioria negra e promoveu greves e protestos.
Defensor de um país mais igualitário, ele, junto com outros ativistas dos
direitos humanos, passou a lutar por princípios de um estado não racial, onde a
terra seria dividida entre os que nela trabalhassem.
Já
em 1960, Mandela se tornou clandestino em seu próprio país, após o massacre de
Sharperville, quando diversos negros foram mortos pelas forças nacionais de
segurança por protestarem, pacificamente, contra a Lei do Passe. Esta obrigava
os negros sul-africanos a portar uma caderneta que dizia onde eles poderiam
transitar. O massacre fez com que a política do Apartheid ganhasse notoriedade
mundial pela primeira vez.
Mandela
fundou o braço armado do Congresso Nacional Africano (CNA), então uma simples
associação, passando a estimular e realizar sabotagens em todo o país. Caçado
pelas autoridades, escapou durante 18 meses, disfarçando-se de operário,
porteiro e garagista, mas sempre discursando para pequenos grupos clandestinos.
Em 1962, porém, Mandela foi capturado pelas autoridades sul-africanas e levado
para a prisão, onde, inicialmente, cumpriria pena por cinco anos. No ano
seguinte, contudo, acabou acusado de traição e sabotagem junto com outros
líderes negros. Após o julgamento, que durou sete meses, foi condenado à prisão
perpétua.
Nos
18 anos seguintes, seria o prisioneiro 46664 na prisão da ilha de Robben, onde
quebraria pedras até ser transferido para a prisão de segurança-máxima de Pollsmoor,
perto da Cidade do Cabo.
Apesar
de ter suas ideias impedidas de publicação ou discussão, a obstinação de
Mandela em não renunciar a seus princípios e a longa duração de seu cativeiro o
transformaram no mais famoso preso político do mundo daquela época. Em 1985,
ele recusou proposta do então presidente Pieter Botha, que o pediu que
condenasse o recurso à luta armada em troca de sua libertação.
Em
meio a muita pressão externa, a própria minoria branca da África do Sul já
acreditava que a libertação de Mandela seria a única esperança de uma solução
pacífica para os conflitos que devastavam o país. Nesse momento, Madiba não
tinha mais sua liberdade condicionada à renúncia da luta armada, e os capítulos
finais da negociação da sua soltura foram feitos por fax, diretamente com Frederik
de Klerk, novo presidente sul-africano.
Militância em liberdade
Finalmente,
no dia 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos, seis meses e seis dias de
reclusão, Nelson Mandela estava solto, para celebração da população local e de
ativistas de todo o planeta. Mas, mesmo livre da prisão, ele permaneceu na sua
batalha pelo fim do Apartheid. Logo em sua primeira declaração pública, Madiba
agradeceu a todos que se esforçaram por sua libertação e reiterou que estava
disposto a morrer pelo seu ideal de luta contra a dominação branca sobre o povo
negro e pela liberdade de outros 400 presos políticos.
O
processo de negociação com o Governo seria lento e exaustivo, sendo
interrompido diversas vezes, por episódios de violência extrema. Um deles
levaria Mandela a pedir a intervenção da ONU, em junho de 1992. Nessa época, já
eleito presidente do CNA, realizou viagens por vários países, dando novas
dimensões ao seu trabalho pelo fim pacífico do regime do Apartheid e por
estabelecer os princípios para uma nova África do Sul democrática. Êxito
reconhecido com a conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1993 (dividido com de
Klerk).
No
dia 22 de dezembro de 1993, em sessão histórica, o Parlamento aprovou nova
Constituição da África do Sul, instituindo legalmente a igualdade racial no
país, dando fim ao regime separatista. Com a justiça feita, e o caminho livre
para eleição de negros, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul
em 1994, o primeiro presidente negro da história do país. Seu mandato terminou
em 1999, mas desde então Madiba permaneceu sendo uma das figuras políticas mais
influentes do país, status que possuía até a sua morte.
Fonte: idest.com.br
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