Do Site Passeio Urbano
Foto: Euges Lima |
Já
tive a oportunidade de viajar para alguns lugares e perceber como as pessoas
valorizam seu passado, sua gente, seus grandes nomes em diversas áreas de
conhecimento. Nas artes, em específico, isso é bem mais latente.
Em
Madrid, na Espanha, a casa onde viveu o poeta Lope de Vega (1562-1635) foi
restaurada pela Real Academia de Lengua Española e transformada em museu, onde
se conta um pouco da história do escritor. Em, 1935, a casa foi declarada
Monumento Nacional durante a celebração do terceiro centenário de sua morte.
Em
frente à casa a inscrição em latim também restaurada: “Parva propria magna,
magna aliena parva“. Em português: “A casa própria é grande, ainda que seja
pequena. A casa alheia é pequena, ainda que seja grande”. Nela, Lope de Vega
reflete sua satisfação em possuir um lar próprio, algo bastante difícil numa
época em que os poetas viviam em constantes dificuldades econômicas. Próximo
dali, fica a casa do maior escritor espanhol, Miguel de Cervantes, que também
foi declarada Monumento Nacional; muito bem preservada.
Em
Paris, um dos mais célebres romancistas franceses, Victor Hugo, autor de “Os
miseráveis” e “Notre-dame de Paris”, também teve sua casa transformada em
museu. A casa onde viveu com sua esposa por mais de 16 anos, na Place des
Voges, guarda coleções permanentes que vão desde escritos e documentos
literários do autor, bem como mobiliários e “decoração” concebida por ele para
os cômodos do apartamento.
Casa de Pablo Neruda |
Não
muito longe, em Belo Horizonte, a casa onde passou a infância Guimarães Rosa,
vejam só, há 40 anos também recebe visita de turistas. A casa onde nasceu o
autor de Sagarana é hoje um museu que reúne bom acervo de fotos, coleção com as
indefectíveis gravatas-borboleta, toda a obra literária, matrizes de
xilogravuras usadas em volumes como Corpo de Baile (1956), espada, bainha e
diploma da Academia Brasileira de Letras, máquina de escrever, rascunhos de
trabalhos e outros objetos pessoais.
Então
me digam por que por aqui as coisas têm de ser mais difíceis, tudo mais moroso
e burocrático? E porque só agora, quando o prédio está quase virando pó se
começou a tomar alguma atitude. Não cabe aqui só culpar o poder público ou a
iniciativa privada, a culpa é de todos nós que só sabemos “lutar pelos
direitos” quando a ferida é na nossa pele e quando ela está bastante
infeccionada, a ponto de amputar um membro.
São
Luís, que já é tão carente de espaços culturais, está perdendo a oportunidade –
mais uma oportunidade – de atrair turistas, de movimentar a economia local e de
melhor as condições de vida dos moradores da cidade. Sem falar no grande abismo
negro que estamos jogando o nome de um dos mais brilhantes escritores
brasileiros e na falta de ação para preservação do patrimônio arquitetônico que
deu à cidade o título de Cidade Patrimônio da Humanidade. Como eu queria poder
levar meus alunos de Literatura para conhecer a sua obra através de uma
experiência diferente, além da sala de aula!
Amo a
minha cidade, sou muito otimista de que ela poderá ser uma grande cidade
turística, falada (bem falada) pelo mundo a fora. Mas do jeito que estamos
indo, fica difícil manter a esperança de que as gerações vindouras poderão
conhecer a nossa história, além daquelas contadas pelos políticos, a de que a reforma
da pracinha do bairro da periferia, onde nem coleta de lixo é feita, é a grande
obra de seus mandatos.
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