terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

As Coleções do IHGM



LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40
Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21

A criação do Instituto de História e Geografia do Maranhão – atualmente Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) – naquele ano de 1925 é atribuída à falta de instituições que promovessem estudos e pesquisas sobre a história das populações, e à omissão dos órgãos competentes nas diversas esferas governamentais na preservação da memória maranhense (BANDEIRA, 2002) [1].
Em nota na Folha do Povo[2] de 1º de dezembro de 1925, p. 2, sob o título “O Instituto de História e Geografia do Maranhão a sessão de amanhã” fala-se da realização da primeira sessão cívica, criado sob um dos melhores auspícios para estudo dos problemas de nossa população e da nossa terra e guarda das nossas tradições. A solenidade visa à instalação do Instituto e à comemoração do Centenário de D. Pedro II. Anunciava-se a presença do Presidente do Estado, do Arcebispo Metropolitano, Prefeito Municipal, Capitão do Porto, Comendadores e oficiais do destróier Amazonas e outras autoridades ontem convidadas por uma comissão. Para a cerimônia fora cedida as instalações da Câmara Municipal. Informa, ainda, que seriam expostos os retratos de D. Pedro II e dD. João VI, devidos ao pincel do distinto pintor Paula Barros…
Fundado o IHGM, aprovado o Estatuto, dispunha em seu Art. 1º:
“ Fica fundada nesta cidade de São Luiz uma associação scientifica para o estudo e diffusão do conhecimento da história, geografia, ethnographia, ethnologia, archeologia, especialmente do Maranhão, e incremento à commemoração dos vultos e factos notáveis do seu passado e a conservação dos seus monumentos” Estatuto do Instituto, in Revista do IHGM, no. 1, 1926, julho-setembro, p. 61.

Em 1926, encontramos na Revista do IHGM em seu numero 1, de 1926 uma nota da redação, atribuída a Antonio Lopes [3] em que se refere às “Coleções do Instituto” onde relata     as reclamações, pela imprensa, da falta de um museu histórico. Informa, então, que o IHGM estava organizando não um museu, mas uma coleção de material arqueológico, histórico, etnográfico, e geográfico do Maranhão; para esse fim, já se havia posto em campo, nomeando em alguns pontos do estado agentes incumbidos de angariar esse material, pessoas cultas e dedicadas.
Em O Imparcial[4], de 28 de abril de 1927, p. 6 é noticiada a visita que a Diretoria do IHGM fez ao Presidente da província para agradecer os reparos que mandou executar na parte do prédio da antiga Escola Onze de Agosto, onde vai funcionar aquela agremiação.
Na ocasião, a Diretoria agradeceu ao Presidente a entrega de inéditos de César Marques.
E é anunciada que Magalhães de Almeida confiava ao IHGM , em nome do Estado, a coleção de quadros da Escola Maranhense de Pintura Colonial, colecionados outrora para a Província, por Gonçalves Dias,
[…] Foi um belo e acertado passo para coadjuvar a iniciativa do Instituto, empenhado em lançar as bases de um futuro Museu Maranhense. Muito conta com o apoio do presidente do Instituto para levar a bom termo a sua tarefa em relação à nossa terra e suas tradições.

Em nota de O Imparcial, de 02 de setembro de 1928:
Continua o publico a favorecer o nosso Instituto Histórico e Geográfico com a oferta de livros de interesse para a sua finalidade.
Assim é que o Desembargador Domingos Américo doou àquela associação um exemplar de Algumas Notas Genealógicas, de João Mendes de Almeida.
O desembargador Henrique Couto, secretário-geral do Estado, ofertou um exemplar da Antiga História do Brasil, de Ludovico Scwennhagen e um medalhão de Arthur Azevedo, trabalho do escultor conterrâneo Newton Sá.[5]

Nota publicada em 27 de novembro de 1928, em O Imparcial[6], sobre doação da Sra. Maria Leonarda Almeida, esposa do Sr. Marcelino Gomes de Almeida Junior, de dois valiosos retratos a pastel do começo do século XIX, ofertados pelo Dr. Joaquim Pinto Franco de Sá, colecionador maranhense de objetos de arte e antiguidades.
Em 1929[7], noticiada a doação de interessantíssimos objetos:
[…] O dr. José Domingues, ilustrado presidente do Instituto, ofertou uma gravura antiga em que se vê o antigo Largo de Palácio, com o famoso Colégio de Nossa Senhora da Luz do Maranhão, dos padres da Companhia de Jesus. Esta oferta é particularmente valiosa, pois, à exceção da gravura panorâmica de São Luis, contida na raríssima Istoria delle Guerre nel Regno Del Brasile, de Frei José de Santa Theresa, nenhuma gravura outra representa o colégio que demorava no local se acha atualmente o Paço do Arcebispado.
O Dr. Rangel Júnior, juiz de Direito da comarca de Alcântara ofereceu, em seu nome e no do vizinho município, uma das raras insígnias dos antigos vereadores ou juízes das Câmaras nos tempos coloniais. A preciosa insígnia traz pintadas as Armas Portuguesas.
O Dr. Antonio Lopes, fundador e secretário-geral do Instituto, ofereceu três raríssimas plantas que teve oportunidade de copiar no Arquivo Público do Pará. Trata-se dos traçados da Fortaleza de São Francisco, ora desaparecida, do Forte da Ponta d´Areia e da antiga Sé do Maranhão, anterior à que hoje é a Catedral Metropolitana.
Por toda a semana vindoura esses objetos estarão expostos no Instituto.

Nota de 14 de dezembro de 1929, de que o dr. Cesário Veras, conceituado clinico maranhense, enviou ao Instituto uma das Varas dos antigos vereadores de Alcântara nos tempos coloniais[8]. E a educadora maranhense D. Maria da Glória Parga Nina ofertou um fragmento da coroa imperial que servia outrora de ornato à fachada do Teatro São Luiz e fora despedaçada pelo povo na ocasião de se proclamar a Republica nesta capital.
Em sessão programada para março de 1930, se inaugurará no Instituto Histórico os retratos dos falecidos sócios Ribeiro do Amaral e Virgílio Domingues.[9]
Em seu número 2, de 1948, Antonio Lopes fala do Museu do Instituto, que reunia diversas peças, todas já perdidas com o tempo[10], em função dos acontecimentos decorrentes da revolução de 30, dentre outras conseqüências, foi responsável pela total desorganização do Museu do IHGM:

“Não poucos revezes saltearam o Instituto na vigência do regimem político instaurado em fins daquele ano. Uma administração do município de S. Luis retirou o parco auxilio com que eram custeadas as despesas com a revista. Desalojaram a associação, reconhecida de utilidade pública por lei estadual… do próprio Estado do qual a instalara o governo de um maranhense e os seus livros e as coleções do seu interessante museu foram atiradas para escuros e humidos porões de edifícios públicos, onde ficaram expostos a inevitáveis estragos.” (p. 3)

Ao apresentar relatório dos fatos acontecidos no período de publicação da primeira revista (1926) e de seu numero 2 (1948), há uma nota referente a 1939 -14ª. sessão, 20 de julho, se refere à desorganização do museu devido ao seu despejo ocorrido em conseqüência da revolução de 30, com o corte de subsídios. Logo mais abaixo, em Notas Finais, referindo-se ao funcionamento do Museu do Instituto:

“São do conhecimento do público maranhense os prejuízos que sofreu o Museu do Instituto em conseqüência de fatos que se alude no principio desta revista e nas sumulas das atas de assembléia geral publicadas nas páginas atrás.
“Pretendendo reabrir em 1949 esse museu, o Instituto pede aos maranhenses de boa vontade lhe mandem material para as coleções geográficas, históricas, etnográficas, arqueológicas. (p. 159)

O que se verifica, com essas notas, que a Coleção, depois Museu, chegou a ser instalado, provavelmente com aquelas peças recolhidas no sitio do Anil, seu acervo inicial, e dado continuidade a coleta e pesquisas. Em 1939 já estava perdida parte do acervo, havendo o propósito de reabrir o Museu e reiniciarem as pesquisas. Não se tem noticia do relatório de Raimundo Lopes…
Outra nota referente ao Museu do IHGM aparece na revista de 1952[11], onde é informado que estava sendo (re)organizado pelo Dr. Domingos Vieira Filho, por incumbência da diretoria. Organizado em duas sessões: folclórica e etnográfica; sendo que esta reunia vasto material etnográfico referente ao negro, ao índio e ao luso. Registra que havia um vasto material, cedido pelo Serviço de Proteção ao Índio, constituído de objetos dos índios Canelas do Maranhão. Havia uma seção histórica, sob a responsabilidade de consorciado Osvaldo Soares, que estava organizando as fichas e, quanto ao material – louças antigas – não poderia ser exposta devido ao prédio estar em péssimas condições e não apresentar segurança.
Borralho (2011, p. 13) [12] também faz referencias ao acervo arqueológico do IHGM, e aos estudos empreendidos por seus associados:
Dessa forma, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, logo no seu nascedouro, se coadunou com o seu objetivo de ser um guardião, um tutor da memória e da história do Maranhão, preceitos estabelecidos nos seus regimentos. Isto se comprova e está evidente no esforço que seus membros fizeram para levar ao Maranhão a Coleção Artística Artur Azevêdo, “prometida ao Instituto pelo presidente Magalhães de Almeida”, conforme está registrado nas súmulas das Atas da Assembléia Geral do Instituto, contidas no Livro I, página 148, ou ainda, nas várias exposições montadas por este órgão, reunindo livros, desenhos, autógrafos, retratos e escavações arqueológicas operadas por Raimundo Lopes em várias tribos indígenas do Maranhão, nas festas realizadas no Teatro Artur Azevedo em homenagem ao poeta Gonçalves Dias, na confecção de História do Maranhão feita por Antonio Lopes contendo uma minuciosa cronologia da região, no dever de ofício de pesquisa quando descobriram o acervo encontrado por John Wilson da Costa contendo a história da genealogia dos maranhenses, mais precisamente de sua família, de origem irlandesa, biografias de maranhenses considerados ilustres, como o senador Candido Mendes de Almeida, uma comparação entre a cidade dos séculos anteriores com a atual. (grifado).

Onde está a coleção do IHGM? O que restou?


[2] O Instituto de História e Geografia do Maranhão a sessão de amanhã. Folha doi Povo, 1º de dezembro de 1925, p. 2, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p. 376
[3] Revista do IHGM, no. 1, 1926, julho-setembro http://issuu.com/leovaz/docs/revista_01_-_1926b
[4] INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA. O Imparcial, de 28 de abril de 1927, p. 6, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p. 397.
[5] INSTITUTO DE HISTÓRIA. O Imparcial, de 02 de setembro de 1928, p. 3, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p. 416-417.
[6] O INSTITUTO HISTORICO. O Imparcial, 27 de novembro de 1928, p. 6, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p. 419.
[7] O INSTITUTO HISTÓRICO. O Imparcial, 03 de março de 1929, p.8, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p.421-422
[8] INSTITUTO HISTÓRICO. O Imparcial, 14 de dezembro de 1929, p. 7, citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p. 432
[9] INSTITUTO HISTÓRICO. O mImparcial, 25 de fevereiro de 1930, p. 8, , citado por MELLO, Luiz de. CRONOLOGA IDAS ARTES PLÁSTIUCAS NO MARANHÃO (1842-1930). São Luis: Lithograf, 2004, p.436..
[10] Revista do IHGM No. 2, 1948, novembro, p. 160
[11] Revista do IHGM – NOTICIÁRIO – Ano IV, n. 4, junho de 1952 127, O Museu do Instituto.
[12] BORRALHO, José Henrique de Paula. Instituto De História E Geografia Do Maranhão (IHGM): Patrimônio, Memória E História Como Princípios De Perpetuação Da Imagem De Um Maranhão Grandioso. IN PATRIMÔNIO E MEMÓRIA, UNESP – FCLAs – CEDAP, v.7, n.1, p. 19-37, jun. 2011

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