segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Entre a batina, a toga e as musas





Ana Luiza Almeida Ferro

A 19 de fevereiro de 1978, aos 77 anos, transpôs o umbral da eternidade um dos personagens mais fascinantes e destacados das letras maranhenses. Um homem de muitas facetas, que navegou, com semelhante desenvoltura, pelos mares do sacerdócio, da política, do jornalismo, da magistratura e das letras. Um padre que fez história.
Nasceu em Matinha, onde aprendeu as primeiras letras, findando o curso primário na cidade de Viana. Em São Luís, estudou no Seminário de Santo Antônio. Ordenado sacerdote em 1925, cedo trocou o púlpito do clérigo pela tribuna do político. Apoiou a Coluna Prestes e integrou a Aliança Liberal, qualificando-se como uma das principais figuras da causa da Revolução de 1930 no Maranhão, para a qual contribuiu ativamente como jornalista e orador inflamado. Governou o Maranhão pelo breve e tumultuado período de 09 de janeiro a 18 de agosto de 1931, como Interventor Federal, com o assentimento a custo de D. Octaviano de Albuquerque, arcebispo de São Luís, batendo-se contra sérios problemas administrativos e a feroz oposição liderada por Reis Perdigão e Tarquínio Lopes Filho. E ganhou repercussão no país a notícia de sua convivência em palácio com uma mulher casada, mãe de um filho seu. Foi suspenso das ordens sacras e retirado das rédeas do Executivo. Preso, por poucos dias, em 1935, em razão de sua simpatia pela Aliança Nacional Libertadora, mudou-se, em 1937, para o Rio de Janeiro. Lá renunciou à batina e ocupou vários cargos públicos, de início sob a era Getúlio Vargas e, depois, sob o governo de Eurico Gaspar Dutra, destacando-se a sua nomeação, em 1949, para ministro do Tribunal Superior do Trabalho, de que exerceu a presidência em 1964.
Mas a pena do magistrado jamais sombreou a do escritor. Celebrado historiador, memorialista e poeta, possui caudalosa bibliografia, com trabalhos publicados e inéditos: Gleba que canta e Profetas de fogo (poesias); Homenagem à mulher maranhense; Noventa dias de governo, Aspectos de uma campanha e Discursos políticos (política); O Guesa errante, um estudo sobre o poema homônimo de Sousândrade; Terra enfeitada e rica (crônicas); Caxias e o seu governo civil na Província do Maranhão, obra historiográfica de fôlego sobre o Patrono do Exército brasileiro, com prefácio de Eurico Gaspar Dutra; A vida simples de um professor de aldeia, biografia de seu pai Joaquim Ignácio Serra; A Balaiada, sem dúvida, seu livro mais conhecido; A vida vale um sorriso e Uma aventura sentimental (novelas); Gonçalves Dias e os problemas da economia nacional, outro estudo; e a deliciosa obra Guia histórico e sentimental de São Luís, dentre outros preciosos legados.
Algumas dessas obras e fotografias, diplomas e outros documentos ligados à sua trajetória de vida podem ser encontrados no Centro de Memória e Cultura do TRT-MA, localizado no fórum local que leva o seu nome.
Integrou os quadros da AML e do IHGM. Tenho o privilégio de ocupar a Cadeira nº 36 deste instituto, patroneada pelo padre secular que fez história, seja como protagonista, seja como seu intérprete: Astolfo Henrique de Barros Serra.

Promotora de Justiça, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), sócia efetiva do IHGM e membro da ALL





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