sexta-feira, 27 de maio de 2016

Mary Del Priore lançará e debaterá "Histórias da gente brasileira" em São Luís, amanhã(sab)




A historiadora Mary Del Priore fará sessão de autógrafos, seguida de um debate com o Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) Euges Lima que terá, como mediador, o acadêmico Sebastião Moreira Duarte, às 19h, na Livraria Leitura, do Shopping São Luis.



Mary Del Priore apresenta uma outra história do Brasil

Primeiro volume da série Histórias da gente brasileira aborda o cotidiano da Colônia


Por trás da história dos grandes feitos, datas marcantes e personalidades notáveis estão as narrativas do cotidiano, um passado escrito por personagens anônimos que, ao longo dos anos, acabaram por se misturar ao próprio tecido social. O que Mary Del Piore oferece na nova série Histórias da gente brasileira (LeYa) é um estudo desse tecido, uma “histologia histórica” que analisa os fios miúdos que entrelaçam as tramas do passado e, com simplicidade e frescor, apresenta uma história do Brasil diferente. No Volume 1: Colônia, a autora lança luz sobre o universo multicolor das pessoas comuns e coisas pequenas que formaram um caráter nacional ainda hoje presente em nossas vidas e formas de pensar.

“O que parece uma cacofonia, ruído desencontrado, é música. São os sons da rua, da casa, dos instrumentos de trabalho ou de festas. Para isso é preciso olhar pelo retrovisor para ver como nossa gente era, como morava, vestia, comia, trabalhava, ria, amava e sonhava. De que forma seus problemas foram ultrapassados de geração em geração. Mas é preciso também olhar pelo buraco da fechadura, para enxergar como se comportava em sua intimidade nos momentos de medo, dor ou prazer”, escreve Mary na apresentação.

Em seus primeiros anos, a Colônia foi precariamente povoada pelos “desassistidos”, portugueses desenraizados a quem a Coroa se dispunha somente a distribuir machados para a extração das eventuais riquezas de uma terra em que, nas palavras de Américo Vespúcio, “não encontramos nada de tirar proveito”. Medindo o passar do dia por meio de orações (“tempo de duas Ave-Marias”) ou de funções fisiológicas (“de uma mijada”), eles não dispunham de muito além de obstáculos e incertezas, mas mesmo assim investiram em construir uma sociedade europeia sobre os ombros dos habitantes nativos – os índios, que mantinham uma elaborada agricultura e um conhecimento sofisticado da fauna e da flora.

Por isso esta é uma história repleta de texturas e sabores, como mandioca, mel de abelhas selvagens, larva de taquara, bunda de tanajura, araçá, pitanga, umbu e os múltiplos usos das palmeiras: palmito, óleos e frutas que, amassadas e fervidas, eram transformadas em um pó castanho consumido como sal. As diversas tribos locais ainda ensinaram os europeus a utilizar a natureza na vida prática. Uma folha de capim selvagem, por exemplo, fazia as vezes de lâmina de barbear. Os objetos, aliás, também surgem como protagonistas desta trama: marcados pela intenção de seu criador (e, depois, de seus detentores), são o signo de uma ação.

Como em todas as nossas épocas, prazer, angústia, harmonia, conflito, civilização e barbárie coabitam neste Volume 1: Colônia, que detalha como os homens e as mulheres que viveram no Brasil entre mais de três séculos e dois Pedros – o Cabral e o de Alcântara – se relacionavam com terra, trabalho, casa, comida, nascimento, adolescência, uniões, doença e morte.

Mas essas nunca deixaram de ser também histórias da destruição do meio ambiente, da exploração do outro, da enxada e do chicote. É surpreendente constatar tudo o que mudou de lá para cá, porém o que mais impressiona é o tanto que continua igual. As Histórias da gente brasileira abrem nossos olhos para verdades a respeito de quem somos, o que torna a leitura ainda mais pertinente. Porque, nas palavras de Mary Del Priore, “descobrir os caminhos da gente brasileira e conhecer mais e melhor o nosso passado é a receita para se gostar mais e melhor dele”.

O próximo tomo, com lançamento previsto para novembro, vai acompanhar a ação do tempo e as
transformações na rotina de nossos ancestrais durante o Império. O terceiro e o quarto tratam do período republicano.

A autora

Mary Del Priore, ex-professora de história da USP e da PUC/RJ, pós-doutorada pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, é autora de 45 livros de história. Recebeu mais de vinte prêmios literários nacionais e internacionais, foi colunista do jornal O Estado de S. Paulo por dez anos e é sócia titular do IHGB, IHGRJ, Academia Portuguesa de História, Real Academia de la Historia de España, PEN Club do Brasil, Academia Carioca de Letras, entre várias academias latino-americanas. Atualmente leciona no curso de pós-graduação da Universidade Salgado de Oliveira.




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