DISCURSO DE POSSE DE ALEXANDRE FERNANDES CORRÊA NA CADEIRA NÚMERO 10, PATRONEADA PELO Pe. JOSÉ DE MORAES
Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão,
Senhoras e senhores,
Confrades e confreiras,
Convidados,
Boa Noite!
É com grande alegria e satisfação que tomo posse hoje na Cadeira Número 10 deste egrégio Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, fundado em 1925.
Ao compor esse discurso de posse, lembrei-me do poeta romano Horácio (65 a.C.–8 a.C.), que também foi filósofo, e, como se sabe, dentre suas características literárias, destacava-se a insistência na importância em se aproveitar o presente, sem demonstrar muita preocupação com o futuro. Pelo reconhecimento da brevidade da vida, acreditava na ideia de aproveitarmos cada momento de nossa existência efêmera, antes da morte, dedicando-nos ao amor e as questões sociais. Devemos a ele a difusão da expressão latina Carpe Diem, uma frase em latim retirada de um poema seu, e popularmente traduzida para algo como “colha o dia” ou “aproveite o momento”. É também utilizada como expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro. Inspirado nesses ensinamentos lembrei-me do conselho desse poeta antigo: Esto brevis et placebis, isto é, “Seja breve e agradarás”. É máxima que seguirei hoje...Todavia, é preciso cumprir com o rito de posse tradicional, reverenciando e rememorando as vidas do patrono da cadeira número 10, e do último e único ocupante anterior a mim.
Patrono da Cadeira Número 10. Seu nome completo é José Xavier de Morais da Fonseca Pinto. Jesuíta e cronista português, nasceu em Lisboa no ano de 1708. Sua entrada na Companhia de Jesus foi feita em março de 1727, chegando ao Maranhão em 1730, ordenando-se padre em 1744. Foi teólogo e pregador, e por seus méritos foi encarregado pelo El-Rei D. João V para examinar a legitimidade dos cativos de guerra no Maranhão. Saiu do Maranhão quando da expulsão dos jesuítas em 1759, sendo deportado, voltando para Portugal. Pouco antes havia sido nomeado Cronista da Vice-Província do Maranhão e Pará. Sua nomeação fazia parte das comemorações da elevação da Vice-Província à Província; fato que não chegou a ocorrer em virtude da expulsão dos jesuítas. Em Portugal, foi aprisionado em locais não identificados.
Enquanto cronista escreveu Memórias para a História do Extincto Estado do Maranhão, concluída em 1759, e seu primeiro tomo publicada no Rio de Janeiro no ano de 1860; o segundo tomo só será publicado em 1874. Pe. José Moraes ofereceu seu texto à memória da já falecida Rainha Marianna d’Austria (1634-1696), rainha consorte de Espanha de 1649 a 1665, como segunda esposa de Felipe IV e regente de 1665 a 1675 como mãe de Carlos II.
A obra do Pe. José Moais foi publicada no Brasil como registro das Memórias para a História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará, que compreendia vasta região compreendendo os atuais estados do Maranhão, Piauí, Pará e Amazonas (1621-1775). Em sua edição no Brasil, sob orientação editorial de Cândido Mendes de Almeida, foi publicada apenas a primeira parte do texto, contendo diversos capítulos; pois se considerava na época que a segunda parte da obra estivesse perdida. O que justificava esse juízo da perda da obra se encontrava no final do volume da publicação, em que há uma nota do autor na qual afirma, em primeira pessoa:
“Que foi o que pude salvar, com grande risco, do infeliz naufrágio que padeceu toda a Companhia de Jesus; porque a Segunda Parte naufragou no confisco, que se fez em todos os papéis”.
A referida obra do Pe. José Morais trata das tentativas para estabelecimento de missões jesuíticas junto aos indígenas do Maranhão, desde as expedições de Pedro Coelho de Souza e Martins Soares Moreno, até o estágio alcançado no ano de 1759. Compreende um rico acervo de descrições notáveis dos feitos históricos dos jesuítas nessa região do País e do Mundo conhecido.
Para nós que acabamos de passar pela efeméride dos 400 anos de “fundação” de São Luís e do próprio Estado do Maranhão, esta obra mereceria mais atenção; evitando em fim, polêmicas inúteis e despropositadas; assunto que não tratarei aqui, pois foi fartamente discutido nos VI Seminários promovidos pelo IHGM.
Como resumo sumário do livro dividido em dois volumes, destacamos:
Livro I – Da Capitania do Maranhão, contendo treze densos capítulos históricos;
Livro II – Progressos da Companhia no Maranhão, encontramos oito capítulos com relatos mais específicos sobre a atuação dos primeiros jesuítas;
Livro III – Entrada da Companhia de Jesus na Capitania do Grão-Pará, como o próprio título indica, narra-se em dez capítulos os trabalhos no Estado do Pará;
Livro IV – Do que se seguiu da Entrada da Companhia no Pará e do Padre Vieira no Maranhão, em sete capítulos;
Livro V – De outras ações dos nossos Missionários no Estado do Maranhão, e do grande Padre Antonio Vieira até a sua partida para o Pará, em seis capítulos;
Livro VI – Da entrada do Padre Antonio Vieira na Capitania do Pará, do descobrimento espiritual do rio das Amazonas, e das aldeias que nele fundarão os Religiosos da Companhia de Jesus, em onze capítulos.
No Tomo II, temos a continuação da história dos feitos da Companhia de Jesus, narradas e descritas com as mãos de outro cronista, já não mais pelas mãos do Pe. José de Morais. Após um longo ensaio de Cândido Mendes de Almeida, encontramos por fim, A Relação Sumária das Cousas do Maranhão, escrita pelo Capitão Simão Estácio da Silveira.
Voltando ao Tomo I, escrito pelo Pe. José Morais cabe acrescentar que o mesmo escreve também a respeito das atividades desenvolvidas nos rios Madeira e Tapajós na Amazônia, tratando com maior atenção das aldeias, seus nomes, localização e missionários responsáveis. São escassos os dados sobre as sociedades indígenas, mas as informações cronologicamente organizadas permitem uma visualização do processo de implantação das aldeias nesta região.
A obra de José de Morais se junta ao trabalho de outros dois cronistas da época, também privilegiados como fontes na elaboração de análises sobre a colonização da Amazônia e do Maranhão. São eles Betendorf e João Daniel, produzindo textos e relatos importantes, pois são escritos relevantes em função de seus vários pontos de vista sobre a realidade descrita; tornando seus registros um tanto diversos, mas complementares. Ambos eram igualmente padres jesuítas que permaneceram, por longos períodos, evangelizando na Amazônia e publicaram seus registros após receberem aprovações de seus superiores.
Seus relatos abrangem diferentes períodos da colonização da Amazônia, permitindo um acompanhamento do processo dinâmico iniciado com a Conquista da região, durante um período de tempo maior: enquanto Betendorf selecionou e organizou em sua Crônica, informações sobre o Maranhão entre 1594 e 1698; João Daniel compilou dados relativos ao período que permaneceu no Maranhão e Grão Pará (1741-1757).
Esses registros evidenciam o que se considera façanha de grande importância para a História da Evangelização cristã no mundo Ocidental. O patrono da cadeira número 10, nos deixa um legado de grande valor, que hoje pode ser acessado e lido através da Biblioteca do Senado Federal que disponibiliza toda sua obra aqui referida.
Último Ocupante da Cadeira Número 10 Nesse momento, passo a tratar da breve vida de Dom Adalberto Acióly Sobral. O mesmo foi o 27º Bispo do Maranhão e o 3º Arcebispo Metropolitano. Era sergipano e após receber o presbiterato exerceu interinamente as funções de Cura da Catedral de Maceió. Com a criação do Bispado de Sergipe em 03 de janeiro de 1910, passou a integrar o clero da nova Diocese, do qual foi Arcediago do Cabido da Catedral, Diretor Espiritual do Seminário, depois Reitor e Vigário Geral.
Eleito Bispo da Barra, no Estado da Bahia, em 12 de abril de 1927, teve a sua remoção em 13 de janeiro de 1934 para a Diocese de Pesqueira, em Pernambuco. O Papa Pio XII o promoveu em 18 de janeiro de 1947 para a sede Arquiepiscopal do Maranhão, vindo a tomar posse solene a 18 de agosto daquele mesmo ano.
Foi reconhecido como um homem de uma piedade e zelo pastoral edificantes, e segundo relatos, dedicou-se ao seu clero como um verdadeiro pai para com seus filhos. Há quem diga que quando chegou ao Maranhão já era portador da terrível doença, que ainda hoje desafia a medicina, e da qual faleceu em Aracaju, no dia 24 de maio de 1951. O seu corpo foi conduzido à São Luís, e depois de solenes exéquias oficiadas pelo Arcebispo de Belém do Pará, Dom Mario de Miranda Vilas Boas, sepultado na nossa Catedral da Sé.
Dom Adalberto Acióly Sobral seguiu a frente do arcebispado por apenas 4 anos. Como já sofria da doença que o vitimou, antes de aportar à São Luís, teve pouco tempo para exercer seu trabalho clerical e de governança pastoral. Sexagenário, e já tendo sido aureolado com a fama de Apóstolo dos Sertões, que conquistara na Bahia, e de Bispo dos Pobres, como o chamaram em Pernambuco, não teve tempo de conquistar um terceiro cognome. Sua administração foi mais de gabinete, como se podem adivinhar as razões.
Entre seus feitos destacamos a instalação do “Centro de Froamção Religiosa para Jornaleiros e Engraxates”, depois chamado de “Centro Pio XII” ou mais simplesmente de “Casa do Jornaleiro”.
Assim, apesar de seu curto intercurso entre seus contemporâneos ludovicenses, recebeu dos intelectuais maranhenses uma expressiva homenagem, quando os membros do IHGM o elegeram sócio honorário dessa casa de cultura. Depois de morto recebeu ainda uma homenagem póstuma da Câmara Municipal que deu seu nome à rua da Cerâmica, no bairro do João Paulo.
Palavras Finais. Termino esse breve discurso agradecendo publicamente o convite do Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz indicando meu nome para compor o IHGM; muito obrigado pela gentileza, reconhecimento, ajuda e amizade. E aproveito para agradecer também o acolhimento e aprovação da indicação, por parte da assembleia de confrades e confreiras.
Estive pensando nos motivos que levaram Prof. Leopoldo Vaz a nos convidar para participar e integrar essa Instituição que possui vultos renomados de escritores, pesquisadores, professores e eruditos sobre a História, Geografia, Sociedade e Cultura do Maranhão.
Sou professor universitário, pesquisador e escritor que tem produzido investigações acerca da cultura e sociedade brasileira, e em especial, a maranhense, pelo menos nos últimos vinte anos; algumas vezes de modo mais sistemático, outras vezes de modo mais livre.
Creio que ao participar do nosso II Encontro de Estudos Culturais, que organizamos no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, e do III Encontro: Cultura e Subjetividades, ocorrido no auditório do jornal O IMPARCIAL, o Prof. Leopoldo Vaz reconheceu nossa disposição em dar continuidade aos esforços de realização de estudos e pesquisas culturais sobre São Luís, o Maranhão e o país; orientando e estimulando estudantes e pesquisadores, com entusiasmo e dedicação.
Quando digo nós é porque ainda tínhamos a companhia agradável, amorosa e criativa de Adriana Cajado Costa, que nos oferecia confiança e firme presença, qualificando o trabalho comum, com dignidade e beleza. Ela foi uma entusiasta do aceite desse convite; o que justifica nossa presença aqui e agora.
Creio que foi esse conjunto de atividades e atmosfera de estudos e pesquisas que chamaram a atenção do Prof. Leopoldo Vaz, e de tantos outros amigos que conviveram conosco nesses últimos anos. E é isso que poderemos continuar oferecendo, muito embora, não contando mais com a presença e o apoio de nossa querida Adriana Cajado Costa; que se foi prematuramente.
Nosso entusiasmo tinha uma fonte segura, quando ainda hoje nos encontramos sob o manto do luto; mas, nossa missão é dar continuidade e preservar os frutos dessa vida em comum, oferecendo nossos melhores esforços para o florescimento de novas perspectivas e olhares sobre a cidade de São Luís, o Maranhão e o Brasil. Conhecimento novo e mais que necessário, pois urgente e emergente, a fim de conduzir nossas vidas para melhores destinos.
Muito obrigado a todos!
Mais uma vez agradeço aos confrades, amigos e demais colegas, integrar essa Instituição cultural da sociedade maranhense! Muito obrigado!
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