quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Balada de Adeus ao meu Irmão em Cristo Hélio Maranhão

 
 
 Fernando Braga (Advogado, poeta e ensaísta)
 
 

Hélio Maranhão
O seminarista Hélio Maranhão foi aluno de História Sagrada e Retórica, no Seminário de Santo Antônio, do Padre Odorico Braga, meu tio, ao tempo diocesano e depois transferido para a Companhia de Jesus, que lhe dizia sempre: “Hélio, tu tens de pronunciar corretamente as conjunções para que Jesus Cristo possa ouvir e atender tuas orações... Era apenas um reforço de lembrete do velho mestre, porque aquele jovem aluno as pronunciava correntemente dentro dos cânones exigidos pelo linguajar culto...
 Essa particularidade no seu aprendizado de Levita, ele sempre me dizia para ilustrar nossa conversa, como também, pedia minha atenção para que ele recitasse o belo soneto “O Crucifixo”, de seu colega, também seminarista e grande poeta Almeida Galhardo que escreveu essa peça irretocável quando se deparou com a imagem do nosso Cristo, trabalhada a ouro, e afixada em um belo cordão, a realçar no busto feminil de uma jovem em plena vesperal do velho Cine Édem...
 Hélio Maranhão foi meu querido amigo, confessor e conselheiro, que de mim tudo ouvia, sempre com uma resposta filosófica e paternal a transmitir-me, saída de sua voz mansa e apaziguadora.
 Participei, juntamente com o jornalista Nonato Cruz, o Professor Alberto Tavares Vieira da Silva [Professor de Direito e Juiz Federal] e todo o oficialato da Policia Militar do Maranhão, no Clube Social da Incorporação, em São Luis, na Praia do Araçagy, das Bodas de Ouro de sua Ordenação Sacerdotal, e vi e senti, como não poderia ser diferente, o quanto o Monsenhor era querido pelos seus colegas de farda, já que para o povo cá de fora, sabíamos ele sê-lo... Foi uma festa ilustre, onde fora relembrado aquele jovem de cinquenta anos passados, recém saído da Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu seus estudos, a mando de D. José de Medeiros Delgado, Arcebispo do Maranhão, para ser ordenado Padre na Basílica de São João de Latrão, pelo Bispo de Roma, à época, o Papa Pio XII.
 Ele pertencia com seu brilho à Academia Barra-Cordense de Letras, onde era meu confrade, como também a Maranhense de Letras, ambas em Cadeiras patroneadas pelo seu tio, um dos nossos mais brilhantes poetas, um SOS mais inspirados poetas maranhenses de todos os tempos, José Américo Olímpio dos Albuquerques Maranhão Sobrinho... Essas duas cadeiras estão silenciosamente de luto a chorarem a perda do seu humilde e brilhante ocupante, um dos mais ilustres maranhenses, agora chamado por Deus para a grande travessia...
 Fazia alguns meses que não nos falávamos ao telefone, mas os dois últimos livros que lhe mandei foram o meu “Magma” e “A Casa de Cunhaú”, do escritor potiguar Luís da Câmara Cascudo [História e Genealogia] sobre os Albuquerques Maranhão, obra editada pelas Edições Técnicas do Senado Federal, nº 45, de 2008, com prefácio, notas, quadro genealógico e glossário de Paulo Fernando de Albuquerque Maranhão, primo do nosso Monsenhor Hélio... Esse livro nos remete ao parentesco dos Albuquerques Maranhão com os Holanda, de onde descendo por parte materna... Ao enviar-lhe o livro, mandei-lhe dentro essa observação, a qual, naturalmente, ele já conhecia... “Monsenhor Hélio, meu irmão em Cristo, suas bênçãos, se já eu era ligado por laços intelectuais e de admiração ao poeta José Américo Olímpio dos Albuquerques Maranhão Sobrinho, e pelo senhor, seu sobrinho-neto, mais unido fico, aos que são bons de espírito, e aos de berço, bem nascidos”.Ele, por telefone, agradeceu-me a rir e a dizer chalaças a seu modo...
Muito ainda teria a dizer sobre esse filho ilustre de Barra do Corda, onde nasceu a 27 de maio de 1930. Em todos os momentos que falávamos dessa encantadora cidade, vinham-lhe lágrimas aos olhos... A “Canção do abandono” de Olimpio Cruz, “Papéis Velhos” do poeta seu tio-avô, o rio, os doces da Mãe Arsênia, o nosso poeta Nicanor Azevedo, Éder Salomão, Zezé Arruda, o Sempiterno Duque do Giz, a Maria de Paula e tantas lembranças que justificavam plenamente aquela emoção de quem foi Pároco em diversas cidades do Maranhão, Capelão da Policia Militar do Maranhão por mais de trinta anos, cargo em que ele fazia questão de dizer ser o Capelão Militar mais velho do mundo, no posto de Coronel; Vice Capelão da Capelania Militar do Brasil, situada em Brasília, e Vigário Forâneo do Maranhão, Piauí, Pará e Amapá...
Sua biobibliografia é extensa, como extensa é a alma para Fernando Pessoa... E o que dizer agora diante do corpo inerte e frio, de Hélio Maranhão, morto nessa última terça feira, dia 10 de novembro de 2015, aos 85 anos, em um dos leitos do Centro Médico Maranhense, em São Luis, onde estava internado... Tenho a impressão de que seus agônicos olhos, como os de Sóror Teresa [soneto clássico de Maranhão Sobrinho], boiaram também dentro dos olhos do Senhor da Penha...
. Era Monsenhor Hélio Nava dos Albuquerques Maranhão, um autêntico Levita de Deus, um homem de Fé, um soldado cumpridor dos seus deveres, um intelectual de fina estirpe, um orador Sacro que comovia porque tinha uma bagagem cultural bem construída nos alicerces humanísticos e nos moldes clássicos, como também tinha a certeza de que até Cristo estava a ouvir-lhe, porque ele sabia, recordado pelo Jesuíta Odorico Braga, colocar nos seus devidos lugares, aquelas benditas conjunções...
“Goes aetas mi frater tuus... tempore per Dominum nostrum Iesum Christum consistere dicitur perpetua lux rubet... Vale!”

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